Realização: Paul Thomas Anderson
Argumento: Paul Thomas Anderson
Elenco: Joaquin Phoenix, Josh Brolin, Owen
Wilson, Katherine Waterston, Reese Witherspoon, Benicio Del Toro
Inherent Vice é o regresso de P.T. Anderson à sátira americana sob
a forma drogada e alucinogénica de Boogie
Nights e Magnolia em contraponto
com o registo mais sério e formal dos últimos There Will Be Blood e The
Master, numa trip de duas horas e
tal em que somos guiados por mil e um caminhos, uns mais sinuosos que outros, e
acabamos a ver os créditos, ouvir Chuck Jackson, e não fazemos a mínima ideia donde estamos.
A descrição e se possível o
redescobrimento do clássico conto americano, metáfora duma nação, dum sonho,
dum estilo de vida, mantém-se como objecto primário na obra do cineasta
californiano, mas aqui deixamos o a eclosão petrolífera do virar de século ou
os traumas do pós-guerra e centramo-nos na viragem dos anos 60 para 70, período
difuso de contracultura, rock, blues, os hippies e droga. Muita droga.
E a erva é sem dúvida a força
motriz da película, inspirada na obra homónima do magnético mas difícil Thomas
Pynchon; aliás, após muito mastigar o filme, a sensação que me fica (e me
agrada) é que o objectivo de Anderson foi mostrar um filme drogado,
interpretado por drogados e dedicado a um público se possível drogado.
Metaforicamente falando, claro
está – quer dizer, de Phoenix desconfia-se –, mas tudo em Inherent Vice se desenrola sob uma neblina cerrada de fumo. Fumaça.
Uma fumaça poderosa e hilariante.
Se é um filme menor que justifique
o relativo anonimato com que passou pelo circuito e sobretudo pela indiferença
que recebeu dos grandes festivais? Não, de todo. Mas isso também não espanta
ninguém.
Porém, não estamos igualmente perante
uma obra maior na carreira de Anderson. P.T. não faz mal mas já criou melhor. É
o preço a pagar por uma fasquia colocada tão alto.
Nota final para o elenco: todo
ele excelente, com um Josh Brolin que rouba quase todas as cenas que
protagoniza e um Joaquin Phoenix que, trabalho após trabalho, nos mostra que
actualmente quase não tem par.
Golpes Altos: Phoenix, o restante
elenco e a direcção de actores. A trama surreal e a forma como nos é
transmitida em modo de trip ganzada.
Golpes Baixos: De tão louco e
destemperado várias vezes sentimos que o filme se vai perdendo. Anderson acaba
sempre por “resgatá-lo” mas há momentos exageradamente difusos e nonsense. Carece dessa ambiguidade genial de Boogie Nights.