sábado, 28 de fevereiro de 2015

Blackhat


Realização: Michael Mann
Argumento: Morgan Davis Foehl
Elenco: Chris Hemsworth, Wei Tang, Leehom Wang, Viola Davis, Holt McCallany, Yorick van Wageningen

O novo filme de Michael Mann é um exercício formal e estilístico, entre o policial clássico e o thriller cibernético, que nos deixa frios quando saímos da sala mas que vamos gostando cada vez mais à medida que as horas passam, reflectimos sobre o mesmo e conseguimos “digeri-lo”.

Mann, cineasta de culto do policial e do crime film nas últimas duas décadas – Heat, The Insider, Collateral, Miami Vice ou até o menor Public Enemies – lança-se aqui numa trama mais abstracta por assim dizer, com um enredo mais difuso, e que nos leva para o submundo cibernético, a deep web, o génio dos hackers e todo o perigo global que daí advém – algo que por exemplo a segunda temporada de House of Cards alude de forma mais superficial.

É uma realidade e também uma linguagem desconhecida para a maioria de nós e que pode assim acabar por afastar algum público, há que admitir. Mas o realizador norte-americano parece preocupar-se pouco com isso, sente-se inclusivamente alguma obsessão pelo tema – o detalhe técnico na explicação da explosão nuclear ou no golpe da Bolsa de Chicago ou os telemóveis, computadores e outros gadgets como principal arma de espionagem, decifração e embuste – e tem como virtude maior o evitar que a trama discorra para um filme de acção mais ligeiro e pirotécnico, qual Bond de Roger Moore ou Pierce Brosnan.

A ambiguidade com que Mann vai mantendo o registo, ilustrando um argumento do presente e do futuro, de hi-tech e guerra cibernética, duma forma meticulosa e cerebral, é preciosa. Ainda por cima filmada com cenários na sua maioria crepusculares ou nocturnos (Mann é o “maestro da noite cinematográfica”, ninguém filma como ele nesse registo), o que aumenta ainda mais o carácter frio e obsessivo da narrativa. E as principais cenas de confronto, tanto no porto com Kassar e os seus homens como na cerimónia religiosa com Kassar e Sadak, fazem parte dessa ambiguidade, com os telemóveis, os computadores e a penumbra e “máscara” do terrorismo tecnológico a serem substituídos por armas de fogo, facas e confronto corpo a corpo, olhos nos olhos.

É possível que não chegue a todos os públicos mas Mann arranca aqui um filme sério, inteligente, extremamente meticuloso e que se vai entendendo e saboreando melhor à medida que vamos pensando sobre ele.

Golpes Altos: A ambiguidade que tolda o corpo do filme, como referido acima – a análise e a desconstrução da película são imperativas. Dos planos à luz, tudo na câmara de Mann.

Golpes Baixos: O pouco consenso que o tema gera (o que não tem de ser algo necessariamente negativo). Hemsworth não vai mal mas não creio que tenha sido a escolha ideal.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Still Alice


Realização: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Argumento: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Elenco: Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewart, Kate Bosworth, Hunter Parrish, Shane McRae, Stephen Kunken

A maior proeza neste Still Alice, e o que o torna uma película de qualidade mediana e não só uma demonstração de virtuosismo de acting de Julianne Moore, é o facto das outras personagens não serem somente adendas ao texto. Não são só poeira à volta, jogadores com quem Julianne faz tabelas. São mais do que isso, são pessoas de carne e osso, a quem o Alzheimer da matriarca familiar afecta, e muito, mas que não têm outra solução senão “go on with their lives”.

O filme não flui para aquilo que seria previsível, um melodrama cliché em que a encenação de Moore, a banda-sonora e os planos nos levassem de lágrima em lágrima até à catarse final; acaba antes por narrar paulatinamente a evolução da família de Alice, as suas decisões, as suas conquistas – a fertilização in vitro de Anna e Charlie, as primeiras conquistas teatrais de Lydia e a altruísta e humana decisão de voltar a Nova Iorque para cuidar da mãe, a proposta da clínica privada em Minnesota que John não pode ignorar nem recusar –, paralelamente à evolução da doença da mãe, mulher e amiga, e da sua luta diária.

Assim, e mesmo não arrancando daqui uma peça extraordinária, Richard Glatzer e Wash Westmoreland conseguem, nesta adaptação da recente obra homónima da neurocientista Lisa Genova, que o seu filme tenha uma estrutura e uma história de verdade que alicerce a odisseia decadente de Alice. Porque quando assim não é, e a história fica reduzida à performance individual, regra geral o filme é menos filme.

Quanto a Julianne, nada do que não tenha sido dito e escrito nos últimos meses: um dos melhores desempenhos da sua carreira (e não foram poucos), conferindo à sua Alice uma aura de fragilidade e desespero contidos, sempre amparados numa razão, numa sagacidade e numa abertura de espírito que (quase) sempre se sobrepõem e que a fazem ver com clareza que aquela luta é desigual mas tem de ser travada. Quanto mais não seja para que os últimos momentos sejam menos cruéis. E é curioso que mesmo quando desiste, no momento em que tenta suicidar-se – momento esse pré-concebido pela tal racionalidade –, seja o destino a não querer que Alice sucumba perante o fatalismo e a desistência.

Golpes Altos: Julianne Moore. É uma agradável surpresa que o filme não se cinja a ela mas o seu papel é o corpo e a alma. Excelente. Kristen Stewart tem uma performance séria e consistente – gosto dela e julgo que tem futuro, vá lá perceber-se. A capacidade dos realizadores em darem “alma” às restantes personagens, em redor e em paralelo a Alice.

Golpes Baixos: Gosto muito de Alec Baldwin para determinados papéis mas aqui parece-me deslocado – a pinta de “carapau de corrida” é excessiva. A falta de ambição (ou capacidade) narrativa, na ambiguidade dos diálogos, para elevar o filme a outro nível.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Conversas de Café - Para quando outro 2007?

Em conversa com o JPFerreira e outros cinéfilos, falámos do ano fraco que foi 2014 em termos de Cinema, sendo que tem sido mais ou menos comum... isto na habitual ressaca dos óscares.

"O BoyHood está acima de todos os outros, mas só ele ou o Birdman podiam ganhar... talvez o Whiplash como surpresa... mas quando um está mesmo muito acima, tem de ganhar... e não ganhou".

O resumo foi mais ou menos este... sendo que em nota de rodapé colocou-se o Leviathan lá no topo também, e quem não viu que veja... porque é um assombro...

Ora, logo a seguir lembrámo-nos daquele que terá sido um dos melhores anos de sempre na produção de obras épicas e de boas obras. 2007...

Lembrámo-nos logo da batalha de gigantes nos óscares, entre o No Country For Old Man (enorme Filme), e o There Will Be Blood (o melhor Filme dos últimos 15 ou 20 anos...). Ora... não satisfeitos, um dos nossos amigos ainda se lembrou de outro que EM NADA fica atrás destes dois, e que nem se falou muito: The Assassination of Jesse James, by the Coward Robert Ford.

Até aqui já tínhamos percebido que tinha de facto sido um ano anormal...

A seguir o Wikipédico JPFerreira juntou mais estes:

- Eastern Promises
- In the Valley of Elah
- The Diving Bell and the Butterfly
- Michael Clayton
- Juno
- The Savages
- Charlie Wilson's War
- Gone Baby Gone
- I'm Not There
- American Gangster
- Ratatouille
- Persepolis
- La Graine et le Mulet
- 4 Months, 3 Weeks and 2 Days
- Funny Games

A seguir eu próprio fui buscar mais uns quantos:

- Superbad (das minhas comédias do coração dos últimos muitos anos)
- Into the Wild (que nem adoro mas é bom)
- Zodiac
- 3:10 to Yuma
- Sunshine
- The Darjeeling Limited
- Torpa de Elite
- The Visitor
- Control
- Lars and the Real Girl
- Before the Devil Knows Your Dead

Enfim... basicamente temos épicos eternos, misturados com enormes Filmes e ainda bons Filmes...

Melhor ano de sempre?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Oscars 2015 - Querer ou Ganhar?



Vamos deixar-vos aqui o que são as nossas escolhas de melhores do ano nalgumas categorias, e ao mesmo tempo dizer os que achamos que vão ganhar... porque como poderão ver não é bem a mesma coisa :) 

PS: dá para notar que o João viu o Boyhood ontem... e isso é impossível não influenciar tudo... eu vi há algum tempo e sei precisamente o que ele está a sentir... para mim o Boyhood em teoria devia ganhar TUDO de uma ponta à outra... é DE LONGE o melhor Filme do ano e é MARAVILHOSO. Deixa-nos com tudo à flor da pele... mas até isso é giro, um gajo que amou o Boyhood mas viu-o há umas valentes semanas, e outro que o viu ontem... Resultados:


MELHOR FILME
American Sniper
Birdman
Boyhood
The Grand Budapest Hotel
The Imitation Game
Selma
The Theory of Everything
Whiplash

B:
Quero – Boyhood
Ganha – Birdman

Obs: O Boyhood é o filme do ano… e é um prémio merecido quase como carreira para o Linklater. Andou a construir histórias reais ano após ano, a contá-las como se fossem nossas, e neste Filme aingiu o pico. Este prémio devia ser dele. Vai ser do Birdman porque é o Filme da moda, mais hollywood... um ou outro, não serão os comuns vencedores deste prémio, valha-nos isso.

JPFerreira:
Quero – Boyhood
Ganha – Boyhood

Obs: Ponto prévio: dos nomeados ainda não vi Selma e The Theory of Everything mas também não me parece que nenhum entre para estas contas.

Boyhood é de longe o melhor filme que vi este ano (apenas Leviathan se aproxima), uma epopeia delicada e subtil sobre o crescimento, as transformações, a importância do que vivemos, recordamos ou apagamos, e continuamos a viver. A vida como ela é, exposta com uma beleza rara. Tem ganho praticamente todos os principais prémios e ainda bem. Pode ser que a Academia desta vez acerte.


REALIZAÇÃO
Wes Anderson (The Grand Budapest Hotel)
Alejandro González Iñárritu (Birdman)
Richard Linklater (Boyhood) 
Bennett Miller (Foxcatcher)
Morten Tyldum (The Imitation Game)

B:
Quero – Alejandro González Iñárritu (Birdman)
Ganha – Alejandro González Iñárritu (Birdman)

Obs: E porque para mim não faz sentido o melhor Filme andar sempre de mão dada com o melhor Realizador... não faz mesmo... este ano é um caso desses. O Iñárritu foi o melhor Realizador. Um assombro tecnicamente... Merece este prémio e acho que o ganha.

JPFerreira:
Quero – Richard Linklater
Ganha – Richard Linklater

Obs: Quero lá saber dos malabarismos com a câmara, dos cortes e dos planos sequenciais ou dos maneirismos do Iñárritu – o que ele fez, ou tentou fazer, já outros fizeram e melhor. Para mim é simples: o Melhor Realizador deve ser aquele que melhor transmita, através duma obra (se possível de arte), o objectivo a que se propôs. Seja através de tecnicismos assombrosos, da beleza da imagem e ou da simplicidade dos diálogos e da mensagem. Iñárritu, no que se propôs, fez um filme de 6,5; Linklater, no que se propôs, criou uma obra-prima de 9.


MELHOR ACTOR
Steve Carell, (Foxcatcher)
Bradley Cooper, (American Sniper)
Benedict Cumberbatch, (The Imitation Game)
Michael Keaton, (Birdman)
Eddie Redmayne, (The Theory of Everything)

B:
Quero – Michael Keaton
Ganha – Eddie Redmayne

Obs: Incrível o papel do Keaton. Todos achávamos que ele não valia nada e olha... o Redmayne é uma espécie de Russel Crowe na Mente Brilhante... giro, mas já visto, muito visto mesmo.

JPFerreira:
Quero – Steve Carell
Ganha – Eddie Redmayne

Obs: Gostei do Keaton mas fico com o Carell. Papel poderoso, bruto, assustador até. Fazer de louco histérico é mais acessível, personificar uma mente perturbada mas incrivelmente contida é sempre mais difícil. E Carell fá-lo duma forma maestra, encabeçando um trio de actores que está excelente em Foxcatcher. Dito isto, Redmayne é o grande favorito, pelo que me disseram faz um papelão, oscarizável como tudo mas papelão, pelo que duvido que a estatueta lhe escape.


MELHOR ACTRIZ
Marion Cotillard (Two Days, One Night)
Felicity Jones (The Theory of Everything)
Julianne Moore (Still Alice)
Rosamund Pike (Gone Girl)
Reese Witherspoon (Wild)

B:
Quero – Julianne Moore
Ganha – Julianne Moore

Obs: Está mais que entregue. Nem preciso argumentar. Papel gigantesco.

JPFerreira:
Quero – Julianne Moore
Ganha – Julianne Moore

Obs: A nova Meryl? Still Alice é a oportunidade perfeita de ver uma actriz de geração no total e absoluto controlo das suas capacidades, no “topo do seu jogo”. Embora em pólos distintos, Julianne Moore faz aqui o mesmo que Cate Blanchett fez há um ano com a sua Jasmine: personagem “grande”, à medida; interpretação brilhante, sem falhas. Como diz o B, está entregue. 


MELHOR FOTOGRAFIA
Emmanuel Lubezki, (Birdman)
Dick Pope, (Mr. Turner)
Robert D Yeoman, (The Grand Budapest Hotel)
Ryszard Lenczewski and Łukasz Żal, (Ida)
Roger Deakins, (Unbroken)

B:
Quero – Robert D Yeoman, (The Grand Budapest Hotel)
Ganha – Emmanuel Lubezki, (Birdman)

Obs: Adoro a fotografia do filme do Wes Anderson. De todos... e neste acho que ele foi mais longe ainda nas suas taras estéticas... No entanto, cheira a Birdman por todo o lado.

JPFerreira:
Quero – Robert D Yeoman, (The Grand Budapest Hotel)
Ganha – Emmanuel Lubezki, (Birdman)

Obs: Concordo absolutamente com o B. Conceptualmente os filmes do Wes Anderson tendem a ter uma fotografia maravilhosa, é uma das suas grandes forças, e neste realmente parece que ainda voou para toda uma nova direcção. Mas esta categoria técnica parece-me que premiará o Birdman.


MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
Robert Duvall (The Judge)
Ethan Hawke (Boyhood)
Edward Norton (Birdman)
Mark Ruffalo (Foxcatcher)
JK Simmons (Whiplash)

B:
Quero – JK Simmons
Ganha – JK Simmons

Obs: Está mais que entregue, papel de uma vida.

JPFerreira:
Quero – JK Simmons
Ganha – JK Simmons

Obs: Gostei muito dos quatro restantes actores nomeados e qualquer um deles – sobretudo Ruffalo e Hawke – merecem mais o prémio do que Simmons. Incoerente? Não, explico-me: Fletcher não é uma personagem secundária, isso é uma barbaridade que só a Academia podia proporcionar-nos. É tão o centro nevrálgico de Whiplash como o Andrew de Miles Teller. Se não mais. É um papel de carreira e é principal. Ainda assim, vencedor óbvio na categoria em que o colocaram.


MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
Patricia Arquette (Boyhood)
Keira Knightley (The Imitation Game)
Emma Stone (Birdman)
Meryl Streep (Into The Woods)
Laura Dern (Wild)

B:
Quero – Patricia Arquette
Ganha – Patricia Arquette

Obs: Ano fraco neste prémio. A Arquette é mesmo a melhor de todas, penso que não há muitas dúvidas.

JPFerreira:
Quero – Patricia Arquette
Ganha – Patricia Arquette

Obs: Nenhum nome incrivelmente destacável. Gostei da Emma Stone (não vi a Meryl e a Laura Dern, em boa verdade) mas o desempenho da Patricia Arquette eleva-se. Keira Knightley? A sério?


MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
Alejandro González Iñárritu, Nicolas Giacobone, Alexander Dinelaris Jr, Armando Bo (Birdman)
Richard Linklater (Boyhood)
Foxcatcher (E. Max Frye and Dan Futterman and Bennett Miller Screenplay)
Wes Anderson and Hugo Guinness (The Grand Budapest Hotel)
Dan Gilroy (Nightcrawler)

B:
Quero – Foxcatcher (E. Max Frye and Dan Futterman and Bennett Miller Screenplay)
Ganha – Wes Anderson and Hugo Guinness (The Grand Budapest Hotel)

Obs: O Filme do Wes Anderson vai ter de ganhar qualquer coisa, acho que será este o prémio... No entanto, o Foxcatcher para mim é o melhor destes todos... até seria o Nightcrawler, mas aquele fim estragou tudo...

JPFerreira:
Quero – Richard Linklater (Boyhood)
Ganha – Richard Linklater (Boyhood) OU Alejandro González Iñárritu, Nicolas Giacobone, Alexander Dinelaris Jr, Armando Bo (Birdman)

Obs: O mais admirável em Boyhood, para lá da ternura com que a história é contada, não é o seu próprio conceito? Ou seja, não é a originalidade e a magnitude da ideia e consequentemente do projecto? Logo, não veria forma do Argumento Original não ser merecidamente de Linklater. Todavia, aqui temo um assomo de “invenção de algibeira” da Academia, premiando a ideia incandescente e mirabolante do mexicano. 



MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
Jason Hall (American Sniper)
Graham Moore (The Imitation Game)
Anthony McCarten (The Theory of Everything)
Paul Thomas Anderson (Inherent Vice)
Damien Chazelle (Whiplash)

B:
Quero – Damien Chazelle (Whiplash)
Ganha – Graham Moore (The Imitation Game)

Obs: 10-0 aos outros todos o do Whiplash... tudo bem feito, tudo bem construído, tudo a crescer como tem de crescer... perfeito. No entanto, acho que um dos filmes mais fracos do ano vai ganhar este prémio. É o típico caso da 2ª guerra ganhar óscares.

JPFerreira:
Quero – Damien Chazelle (Whiplash)
Ganha – Anthony McCarten (The Theory of Everything)

Obs: Uma vez mais concordo com o B, o Whiplash e Chazelle mereceriam este prémio mais do que ninguém, até porque só está na categoria de Argumento Adaptado porque advém duma curta com o mesmo nome, com o mesmo tema e do mesmo realizador. Ou seja, no fundo falamos dum argumento original. No entanto também acho que será premiado um típico melodrama, nomeadamente The Theory of Everything, que inclusivamente já venceu o BAFTA.


MONTAGEM
American Sniper
Boyhood
The Grand Budapest Hotel
The Imitation Game
Whiplash

B:
Quero – Whiplash
Ganha – Boyhood

Obs: Desculpa Linklater, nem imagino o que terá sido montar tanto filme... e por isso vais ganhar o óscar. Mas a edição do Whiplash é o estrondo do ano para mim.

JPFerreira:
Quero – The Grand Budapest Hotel
Ganha – Boyhood OU Whiplash

Obs: Tal como com a fotografia, a montagem dos filmes do Wes Anderson deixa-me completamente extasiado. É brutal. Mas não me parece que saia vencedor, provavelmente será o Boyhood. Embora o Whiplash já tenha vencido o BAFTA, daí a minha dúvida.


MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Ida (Poland)
Leviathan (Russia)
Timbuktu (Mauritania)
Wild Tales (Argentina)
Tangerines (Estonia)

B:
Quero – Ida (Poland)
Ganha – Ida (Poland)

Obs: Admito que está aqui porque o vi e porque o adorei...

JPFerreira:
Quero – Leviathan (Russia)
Ganha – Leviathan (Russia)

Obs: Daqui vi três: Relatos salvajes/Wild Tales é mediano, não acrescenta muito; Ida é muito bom mas até é de 2013, não entendo muito bem porque foi agora nomeado; mas Leviathan, como disse acima, é para mim o segundo melhor filme do ano. Uma pedrada no charco. Feroz, agreste, desumano quase. Ao nível dos anteriores de Zvyagintsev – que caminha para um dos meus realizadores de culto, como um Audiard.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

The Theory of Everything



Realizador: James Marsh
Argumento: Anthony McCarten (adaptação), Jane Hawking (livro)
Actores: Eddie Redmayne, Felicity Jones

Há histórias de conquistas e derrotas que têm de ser contadas... Quem atirou a 1ª pedra até foi a mulher do protagonista, que escreveu um livro sobre ele e sobretudo sobre eles, agora adaptado de forma coerente e simples.

O Stephen Hawking é um personagem incontornável das gerações próximas da nossa... Um génio pensador com uma notável retórica, mesmo falando através de um computador. Com descobertas e redescobertas cientificas na área da cosmologia, marcou o seu estatuto de forma cabal junto de todos os outros génios pensadores, de agora e do passado.

Mas este Filme passa pelo seu trajecto profissional levemente... não é o foco... o foco é a relação com a mulher, o foco é o amor no seu estado mais puro, o foco é a força de uma mulher, a força de uma família e a vontade de fazer dos seus dias, o melhor possível.

Uma entrega total, absoluta... uma vivência onde só a derrota estava prevista, mas que uma mulher de armas nunca aceitou, nunca se deu por vencida e nunca seguiu o caminho mais fácil, o dela sem ele.

Atravessar com ele a degradação do seu estado de saúde, atravessar com ele as piores expectativas de prazos de vida, vencendo-as, atravessar com ele a opinião alheia por vezes tão demolidora, enfrentar as mudanças, os filhos, as boas ideias, as más ideias... tudo... no fundo, atravessar com ele a vida, de mão dada.

O final da história não muda nada, rigorosamente nada... as lutas não deixaram de existir, as conquistas também não, a opinião alheia continua a surgir, bem como a chegada de mais membros da família, mais vida... Uma ligação destas nunca acaba, seja de que forma decidir continuar a existir.

Todo o filme é bonito e muito bem interpretado. Redmayne está incorrigível, mas penso que a belíssima Felicity Jones não lhe fica nada atrás... Interpretações intensas, que amadurecem com o filme e ganham uma dimensão monstruosa.

Não vai ficar na história, nem sequer o nomeava para melhor Filme com uma lista de 10 ou 20 possíveis, mas é uma história bonita, muito bem contada, que vale a pena ver. Não sairão desiludidos da sala, até porque não acredito que tenham as maiores expectativas.

Vejam o Filme. O James Marsh sabe contar histórias, o melhor exemplo será o Man on Wire, ele que se dedicou maioritariamente a documentários, aqui eleva o "tom" documental para algo mais perto de uma homenagem a uma bonita história de Amor.


Golpes Altos: Interpretações, História, Podermos acreditar que este Amor ainda existe.

Golpes Baixos: A lenga-lenga de Deus (incontornável por foi importante na história deles), a precipitação de algumas evoluções da história, com alguns saltos...

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Testa-a-Testa – Birdman


Realização: Alejandro González Iñárritu
Argumento: Alejandro González Iñárritu
Elenco: Michael Keaton, Zach Galifianakis, Edward Norton, Andrea Riseborough, Amy Ryan, Emma Stone, Naomi Watts

Como já não fazemos um testa-a-testa há muito tempo e eu e o B. não tivemos a mesma opinião sobre a nova e badalada película de Iñárritu, eis uma boa oportunidade para voltarmos ao formato. (No fundo até tivemos parecida… penso que ambos gostámos do filme, eu mais que tu, e ambos entendemos que faltou um pouco de consistência na história e de “arrepio”… densidade vá…)

Contudo, e para não tornar o texto demasiado extenso e mastigado, optámos por destacar somente aquilo que interpretamos como pontos-chave do filme, sejam positivos ou negativos.

Assim, os meus comentários primeiro e dos B. em itálico:

- Birdman não tem uma mensagem concreta, não é um objecto definido, por assim dizer. Uma das características que mais irrita em determinados filmes é tentarem ser várias coisas em simultâneo e acabarem por ser nenhuma, apenas uma amálgama de situações e intenções, sem que saibamos aonde o realizador quer chegar.
Sátira de costumes? Drama existencial? Rábula sobre sociedade de consumo vs cultura “elitista”? Crítica cínica mas surrealista sobre o showbiz? Sinceramente não sei. É uma mistura pouco palpável.
O Duarte dizia noutro dia que era uma espécie de Black Swan versão solar, e entendo a comparação, mas o filme de Aronofsky tinha uma identidade vincada. A deste não consegui descortinar.
(Acho que o filme até se foca de forma clara em 2 temas. Um principal: a decadência da fase mais negra do pós-estrelato. Um paralelo ou secundário: o showbiz e as suas variações…
Penso que não se perde em nenhum dos assuntos…onde pode confundir é no nº de ferramentas que usa para falar sobre os temas… Ou seja, para descrever a queda de uma estrela, vai ao fundo da questão com as relações com a ex-mulher e com a filha, com o drama existencial que o persegue diariamente entre a rotina do sucesso e o mais que provável insucesso, etc., etc…
No 2º tema temos novamente muitas ferramentas… o ator “metódico” vs o hollywoodesco, a crítica e a barbaridade que por vezes representa, o sucesso instantâneo por causa de um vídeo na internet descabido…
Ou seja, penso que os 2 temas são claros e obviamente se cruzam (não podes falar da queda de uma estrela sem mencionar todo o mundo do showbiz), mas acabam por usar tantas ferramentas, que por vezes podem-se até confundir com mais e mais temáticas, quando no fundo nem são.
O Aronofsky é um Deus existencial e que em todos os filmes dele retratou a obsessão… Daí ter falado dele no Whiplash… Aqui faz menos sentido porque é uma sátira com cenas de teor cómico, mas o Iñárritu correu o risco de sair da sua alcofa habitual e tomara muitos terem-se dado tão bem como ele… perfeito nunca poderia ser…)

- Falta alma nas cenas essenciais do filme. Naquelas definidoras, como a destruição do quarto ou o atrofio no topo do prédio com o alter-ego. Carece de carga dramática, daquela força telúrica que faz com que recordemos essas mesmas cenas como as mais brilhantes do filme. Não sei se o que quis fazer foi simplesmente isso, ser propositadamente desalmado. Lá está, nunca tenho grandes certezas com as intenções de Iñárritu neste trabalho e isso não é bom. Mas sei que me soube a pouco.
(Aqui concordamos em absoluto… A cena mais poderosa do filme é quando ele acorda com a cara no lixo e começa a andar na rua com o Birdman… cena essa onde acaba por descolar e sobrevoar a cidade… Essa cena TINHA de ser chave, TINHA de arrepiar e passar-nos um poderoso momento de cinema, daqueles que levantava de facto os nossos pêlos todos… Mas não o conseguiu… nem aí nem nas tais cenas do quarto… e qual a culpa disto tudo? Até é fácil de entender, uma espécie de auto-castração que menciono no parágrafo seguinte.)

- Apesar de tecnicamente ter momentos muito bons, com long take shots preciosos e alguns diálogos excelentes (adoro os de Mike e Sam no terraço!), há um constante pretensiosismo do mexicano com a câmara, sempre a saltitar e com close-ups sufocantes, num género de “Olhem o que sei fazer, como sou incrível!”. Também não me agradou. Algum histerismo de realizador.
(Fazer um filme assim, é de uma dificuldade abrupta… só gajos como ele, estrondosos tecnicamente o conseguiriam… não posso criticar em termos técnicos uma coisa soberba, é como achar ridículo um jogador vir da defesa até à baliza contrária a fazer cuecas a TODOS os adversários e meter golo… porque porra… é do caraças!!
Quanto aos close-ups sufocantes para mim são perfeitos…mais até com a doentia conjugação de planos de sequência longuíssimos… o filme é suposto ser totalmente claustrofóbico… desde os corredores apertados, à tensão constante de estar tudo a partir e a quebrar a qualquer momento… ao facto de 80% do filme ser em interior, não é suposto teres tempo para respirar e este tipo de plano é para isso mesmo… para te deixar desconfortável e quase quereres sair dali… penso que se alguém consegue fazer isto apenas com técnica, não pode nunca ser criticado, é de mestre e de quem sabe o que está a fazer… podes não gostar? Ok… mas não se pode criticar o realizador por ter conseguido esse efeito.
Quanto aos planos de sequência… sim, são mesmo difíceis de fazer… sim, são mesmo difíceis de coreografar e de sair tudo bem à primeira, sim, são doentios para repetir… No entanto, aqui ele exagerou… muito! A ideia tecnicamente pode ser genial, mas NUNCA pode meter em causa o filme ou a emoção/sensação que ele possa querer transmitir…e mete… Voltando ao ponto anterior, é graças a esta obsessão que as tais cenas mencionadas não arrepiam, não nos encostam à cadeira, não nos deixam demolidos… O jeito que davam uns cortes valentes no plano na cena com o Birdman na rua… o jeito que davam uns cortes valentes na cena em que ele parte o quarto todo… tenho a certeza que o problema esteve aqui… porque a coreografia das cenas é boa, as representações também, mas isto falha…e falha redondamente…aqui ele colocou a técnica e a brincadeira dos planos acima do filme, e isso é um erro adolescente de quem sai da universidade, ao qual um Iñárritu não se pode dar ao luxo…).

- Além disso a banda sonora tirou-me do sério! A bateria de Antonio Sánchez é brutalmente manipuladora, como há muito tempo não sentia num filme – mais do que a do recente Interstellar, tão criticada há uns meses por essa mesma manipulação. Não discuto o virtuosismo do músico, que existe, mas é de tal forma obsessiva que a dada altura estava a causar-me incómodo. Incómodo real. Ainda para mais, e recuando ao ponto anterior, tendo em conta a falta de punch emocional que se sente necessário, aquela banda sonora pareceu-me algo deslocada, antitética.
(Aqui repito o que disse acima nos planos fechados… é perfeita. Esta banda sonora leva o tal desconforto claustrofóbico que ele pretende criar, para um nível estratosférico. Penso que a equipa só pode estar de Parabéns por o ter conseguido… os índices de aperto e de sufoco são inimagináveis… achei todo este tema da claustrofobia incrível).

- Dito isto, não odiei o filme, simplesmente saí da sala desiludido. Esperava algo brilhante – podia inclusive tê-lo sido – e não passou dum filme engraçado e meio louco. No entanto há que referir que o elenco está todo ele a grande nível (óptimos Keaton e Norton!) e com uma excelente direcção de actores.
(Eu esperava o filme do ano… e não foi… por aí também saí desiludido. Esperava daqueles filmes que ia ficar realmente marcado, mas não fiquei… acabei por sentir isso num Boyhood que esperava, ou num Whiplash que não esperava… Mas é um dos grandes filmes do ano, mas sem a consistência que podia ter. Toda a direção de atores é irrepreensível…)

- Ah, e não me desagradou nada ver a Naomi Watts e a Andrea Riseborough numa espécie de “explosão conjunta de carinho e afecto”! Bem Alejandro, bem.
(Só estranho como é que um Mexicano não se estica mais em cenas dessas… Em terra de Salma Hayek… não se esperava menos…)

Vá, já “esprememos umas quantas laranjas”, agora digam de vossa justiça!:)

Golpes Altos: O elenco e a direcção de actores. Alguns diálogos. O tecnicismo da realização em determinados momentos.
(Interpretações, sufoco transmitido e qualidade técnica.)

Golpes Baixos: Acima de tudo a falta de definição do objecto. É uma obra que a meu ver peca por não ser concreta, que tenta ser muitas coisas em simultâneo e faz com que nos percamos. Iñárritu engasgou-se na sua ambição desmedida.
(Planos de sequência a roubar dramatismo a cenas-chave. Falta de densidade.)