quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Boyhood



Realizador: Richard Linklater
Argumento: Richard Linklater
Actores: Ellar ColtranePatricia ArquetteEthan HawkeLorelei Linklater


Muito já se escreveu sobre este Filme. É uma obra difícil de descrever ou criticar, tendo em conta a dimensão, a qualidade e o conceito envolvidos.

De certa forma cresci com os "Before" do Linklater, sendo que me falta um dos patamares...
Ainda cedo, com uns 17 ou 18 anos, vi o 1º da triologia, o Before Sunrise... foi dos Filmes na altura que mais mexeu comigo, que mais mexeu com a minha pós-adolescência, que mais me fez querer viver, apaixonar-me a sério, correr riscos, ter um dia assim... perfeito...
Com o Before Sunset o amadurecimento das personagens disse-me imenso, embora mais velhas que eu. Esse amadurecimento foi retratado de forma única, aumentando a dimensão da obra como um todo. Trabalho fantástico e ainda hoje me vejo naquele quarto a ouvir Nina Simone...
Com o Before Midnight, penso que aprendi o que é o Amor hoje em dia, o que são as dificuldades de um casal maduro, um pouco o que estou e o que vou viver daqui a uns anos provavelmente. Mais uma vez, nós estamos dentro daqueles dois, como espectadores das vidas deles, desde que se conheceram.

Mas... com Boyhood, Linklater pegou neste exercício e perverteu-o, no bom sentido...

Em Boyhood, ele pega numa Família, centrada na personagem do miúdo, e "filma-os" durante 12 anos... os mesmos personagens, os mesmos actores, os mesmos subúrbios, tudo durante 12 anos... Cresceu com eles, contou um pouco da história deles e da que criou, acompanhou tudo o que se passou, foi Filmando aqui e ali e no final, montou um Filme (deduzo que o Director's Cut possa ter 10h) extremamente simples, sobre a vida.

Nunca nenhum Filme soube mostrar o que é a vida com tanta aparente facilidade... Nunca um Filme conseguiu tocar-nos "N" vezes no nosso passado, no nosso presente, no nosso futuro, sem aparente esforço, sem querer dar nas vistas, quase conseguindo que de certa forma fizéssemos parte da história deles... Uma espécie de Rear Window "Live" e dos tempos modernos...

É uma história simples, uma família com os problemas todos que as famílias têm, uma super-Mãe, um Pai diferente, uns padrastos pouco aconselháveis, vários subúrbios de acolhimento, as escolas, as experiências, as paixões, os amores, tudo...

Um Filme que fica para sempre, que ficará para a história... um dos Filmes da minha vida e da vossa também...


Golpes Altos: Do melhor que vi na vida, uma coesão impressionante tendo em conta que são os mesmos actores durante os 12 anos, uma credibilidade nas personagens já habitual no Linklater, a facilidade com que os diálogos são perfeitos, a forma como consegue no meio disto tudo fazer a história fluir com toda a naturalidade, tudo... Tudo neste filme é um Golpe Alto, até a banda sonora...

Golpes Baixos: ...

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Serena


Realização: Susanne Bier
Argumento: Christopher Kyle
Elenco: Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Rhys Ifans, Toby Jones, Sean Harris, David Dencik

“We don't invest anything in either character, and with barely any tension, Serena grabs neither head nor heart.”
Ao dar uma vista de olhos nas avaliações do Metascore deparei-me com esta frase da crítica da Time Out London que resume bem o que penso da nova película de Susanne Bier, a dinamarquesa autora do excelente Efter brylluppet – After the Wedding e do muito badalado e oscarizado mas desinteressante Hævnen – In a Better World.

Centrada à volta dum recém casal em plena Grande Depressão que almeja criar um império da madeira mas que se debate com problemas de crédito e com um grupo de ambientalistas, a trama é minimalista no mau sentido, no sentido em que não sabemos donde vêm e para onde vão as personagens, quais as suas motivações para lá do egocentrismo e da ganância, da violência e da tentativa de sobrevivência.

Lawrence tem demasiados maneirismos na sua paranóia obsessiva, mas ainda vai sustentando o filme apenas com a sua presença impactante até que Bier decide arredá-la do desenlace trágico, encarcerando-a em casa durante os últimos 20 minutos do filme; e Cooper está sem nervo, pouco expressivo, pouco pulsante. Lembra mais o Cooper apagado do início de carreira do que o actor revitalizado, coeso e ascendente de quem tanto gostamos em The Place Beyond the Pines, Silver Linings Playbook ou American Hustle.

Já Bier em momento algum parece conduzir-nos de forma fluída, nem sequer consegue que sintamos o que quer que seja por aquelas personagens. Quer admiração, quer desdém. Acaba por falhar, dirigindo o elenco de forma errática e, recorrendo à frase do início, incapaz de conquistar-nos o coração pelo drama épico nem a mente pela “epopeia noir”.

Uma última nota: Jennifer Lawrence tem 24 anos, é aclamada pela crítica como uma espécie de herdeira de Katharine Hepburn e Meryl Streep, já conquistou um Óscar de Actriz Principal (e tem mais duas nomeações, uma de Principal e outra de Secundária), e ultimamente salta de grande projecto em grande projecto. Está numa vertigem de sucesso.
Ainda assim, e apesar de todos os elogios, nos últimos 4 anos e tal não voltei a ver a brutalidade de actriz de Winter’s Bone. Na minha opinião ainda não chegou sequer perto daquele nível. E com apenas 19 aninhos.

Golpes Altos: Pormenores técnicos como o guarda-roupa, a maquilhagem e os cabelos. A fotografia e alguns planos, sobretudo nas Smoky Mountains, são muito bonitos.

Golpes Baixos: A falta de alma da história, uma péssima direcção de actores e o extremo e transversal egoísmo que esvazia as personagens. Bradley Cooper.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Golpes por Ordem – Brad Pitt


A propósito do excelente Fury, que seguramente terá direito a “golpe” brevemente, comecei a reflectir sobre a carreira de Brad Pitt e ocorreu-me lançar-vos a questão: top-5 de papéis de Pitt?

Numa carreira longa, com “apenas” 50 anos – sim meninas, aquilo já tem 50 anos! – mas com mais de 40 películas no cadastro, Pitt acabou por passar por todas as fases: desde os filmes que não interessam a ninguém, de início de carreira (menção para Thelma & Louise), passando por películas fracas, e isto sendo simpático (Meet Joe Black, The Mexican, Troy, Mr. & Mrs. Smith, Babel ou The Counselor), até a várias obras de grande nível onde, apesar de ter óptimos desempenhos, não é o centro gravitacional do filme. Ou pelo menos se é, não é nele que reside o maior brilhantismo. Casos como Interview with the Vampire ou Seven.

Mas voltando ao que interessa, aos grandes papéis de carreira. Vi-me grego para compor o meu top-5 – e ainda tenho dúvidas quanto ao mesmo! – mas aqui vai:

5. Twelve Monkeys, de Terry Gilliam (1995) – Metascore: 74/100 * The Tree of Life, de Terrence Malick (2011) – Metascore: 85/100
Tive de conceder um empate, desculpem. Personagens tão diferentes mas tão marcantes na carreira do actor, Jeffrey Goines e Mr. O’Brien podem servir muito bem como arquétipos de realidades distintas na carreira de Pitt. E com mais de 15 anos de diferença.
Gilliam queria inicialmente Jeff Bridges no papel e Pitt foi uma segunda escolha; consultou especialistas, passou semanas em instituições psiquiátricas e na tela acabou por ser do mais esquizofrénico e lunático de que há memória.
Já com Malick teve a sua personagem mais normal, mais ambígua, mais contraditória nos sentimentos, nas necessidades, na interacção com a família e os seus próprios dilemas éticos e morais. Mr. O’Brien nem é bem uma personagem, é a mais humana das criações de Pitt.

4. The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, de Andrew Dominik (2007) – Metascore: 68/100
A estreia de Dominik é toda ela um poema cinematográfico que só há pouco tempo descobri e onde Pitt é um estrondo. Um estrondo sobretudo no estilo, melancólico, angustiado, quase torturado. Mas sempre com uma altivez dominante, um egomaníaco, mesmo quando todo o poder lhe foi usurpado pelas circunstâncias e pelo inevitável destino.

3. Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino (2009) – Metascore: 69/100
Trabalhar com Tarantino dá nisto. Ainda está para nascer o actor que, sob a direcção de Quentin, não tenha uma das melhores interpretações da carreira. De Keitel a Travolta, passando por Thurman e terminando em Di Caprio ou Pitt.
O Tenente Aldo Rayne é uma paródia memorável de princípio a fim.

2. Moneyball, de Bennett Miller (2011) – Metascore: 87/100
Estive muito, mas mesmo muito indeciso entre o 1º e o 2º classificados. Acabei por decidir com o coração, por assim dizer. Ainda assim julgo que, para lá da “brutalidade” cénica e artística que encerra a outra personagem, para mim é neste manager de beisebol que reinventa a ordem natural do jogo que Pitt se consagra como grande. Em termos técnicos, de liderança do projecto, de maturidade.
Um lead role tão simples e simultaneamente tão complicado, um profissional comum, obcecado em alterar estruturas e mentalidades, um visionário, mas sem trejeitos, sem atitudes disfuncionais, sem um comportamento errático.
Não há muito tempo li isto numa crítica que penso que resume tudo: “No, Pitt didn’t do anything crazy in this role, but that’s what makes his effort in Moneyball all the more impressive. It’s one of the first times where his character looks totally comfortable on screen, and the movie’s success can be directly attributed his Oscar-nominated performance.”

1. Fight Club, de David Fincher (1999) – Metascore: 66/100
Tyler Durden. Quem mais? Avisei logo que tinha sido emocional na escolha.
O filme de Fincher, mesmo tendo o estatuto de culto que ganhou, é ainda mais marcante para mim. Inacreditavelmente marcante. E Pitt é o diesel do filme, é quem faz com que tudo mexa, tudo carbure, tudo evolua à sua volta. Repetindo-me, há ali uma “brutalidade” cénica e artística sem paralelo na carreira do actor.
Fisicamente poderoso, tão cool e confiante como manipulador, psicologicamente electrizante. Persuasão, arrogância, violência. Tudo levado ao limite do real. (E do surreal.)

Tyler Durden é o meu Brad Pitt. E o vosso?


P.S. – Menções honrosas para A River Runs Through It, Snatch, Burn After Reading e The Curious Case of Benjamin Button. Ah, e os Oceans, claro.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

4 Shots de Mike Nichols



The Graduate:

A sua maior obra? Não vi o Virginia Woolf...
Filme poderoso, numa época com imenso conteúdo para trabalhar e se ele o soube fazer... Um dos finais mais potentes que me lembro de ver, tudo baseado numa só mudança de expressão do "gigantesco" Dustin Hoffman... Filme obrigatório a todos os cinéfilos...

The Birdcage:

Abordei esta comédia disparatada mas muito inteligente quando o Robin Williams morreu. Adorei este Filme, tem uma capacidade invulgar e divertida de abordar o tema da homossexualidade. Nathan Lane... top!

Closer:

Não é propriamente um Filme conceituado ou bem visto principalmente pela crítica. Para mim, é só das melhores adaptações que vi na vida de uma peça de Teatro (se calhar não vi muitas). Um Filme estrondoso, poderosíssimo e que nos deixa com um sentimento de espancamento durante semanas... E a Natalie... oh meu deus... <3

Charlie Wilson's War:

E este abordei quando foi a vez do Seymor Hoffman nos deixar... Não consigo explicar o quanto gosto deste Filme... irónico, divertido e com interpretações que deviam ser todas premiadas... do Tom Hanks à Julia Roberts, passando obviamente pelo próprio Seymr Hoffman que é o Rei do recreio neste Filme.


O Nichols não foi um gajo propriamente aclamado pela crítica neste últimos tempos, claro que no The Graduate não tinham muito para dizer mal, mas pelas obras que citei, sempre foi um gajo que respeitei e que teria sempre curiosidade em ver uma obra nova dele.

Não poderei ver mais nada de novo, em sua homenagem vou ver os que me escaparam.

Rest in Peace.

Dracula Untold


Realização: Gary Shore
Argumento: Matt Sazama, Burk Sharpless
Elenco: Luke Evans, Sarah Gadon, Dominic Cooper, Art Parkinson, Diarmaid Murtagh, Paul Kaye, Charles Dance

Enésima versão da obra de Bram Stoker, agora tendo como base a suposta origem do vampiro mais icónico da literatura e do cinema no Príncipe Vlad III, Príncipe da Valáquia, mais conhecido como Vlad, o Empalador, no séc. XV, aquando das invasões otomanas ao centro europeu.

Há aqui uma mistura meio esquisita, porque se há realmente a possibilidade de que Stoker tenha inspirado o seu Conde Drácula em Vlad Drăculea, a verdade é que o próprio romance não remete para esse tempo nem para esse indivíduo. Ou seja, há aqui uma trapalhada entre factos e personagens históricas corrompidos por uma obra ficcionada quase cinco séculos posterior. O resultado, como esperado, não é bom.

Luke Evans é um Vlad pouco convincente, um cavaleiro que empalava homens aos milhares mas sempre com um ar íntegro e justo (?? #1), as personagens secundárias, à excepção dum sempre hipnotizante Charles Dance, são transparentes, e nem sequer os vilões otomanos encaixam bem (Mehmed II é um tipo com ar de quem tem uma loja de peças de telemóveis no Poço do Borratém), muito menos a razão que os move – não há sequer um diálogo acerca de política de conquista, estratégia militar, nada. Só interessa conquistar um reino e massacrar um povo por competição de egos, megalomania e vingançazinha sobre um ex-amigo de infância (?? #2).

Logo, baralhando e dando, hora e meia de entretenimento barato, de classe B, que nem sequer prima pela piada ou pelas cenas violentas. Já para não falar que se vão à procura de algum misticismo sombrio do leste europeu medieval, esqueçam. Ouvir a maioria das personagens a falar british quase que nos remete para um Robin Hood da vida.

Admito, fui ver isto porque me apetecia pipocas e não pensar muito. Em boa verdade cumpri ambos os objectivos. O filme é que não cumpriu com um objectivo mínimo: não ser sofrível.

Golpes Altos: Dance. Aqueles olhos e aquela voz, sejam em que papel for, entram-nos sempre pela mente adentro. Tywin Lannister forever.

Golpes Baixos: Quase tudo. Um desperdício de tempo e dinheiro. E para fazerem coisas destas utilizem outras personagens, outras histórias. Stoker e Drácula não merecem.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

The Judge


Realização: David Dobkin
Argumento: Nick Schenk, Bill Dubuque
Elenco: Robert Downey Jr., Robert Duvall, Vera Farmiga, Billy Bob Thornton, Vincent D’Onofrio, Jeremy Strong, Dax Shepard, Leighton Meester

The Judge deixou-me algo desiludido, não tanto porque não tenha gostado do filme, não é isso, mas pela sensação de que noutras mãos teria saído algo mais contundente, por assim dizer.

A história, simples, gira em torno dum advogado de sucesso em Chicago que, com o casamento a colapsar e emocionalmente instável, recebe a notícia de que a mãe havia falecido. Desse modo tem de regressar ao fim de muitos à sua terra natal, no interior de Indiana, onde terá de lidar novamente com a incompatibilidade com o pai, o austero e conservador juiz da cidade.

A partir daqui a trama desenrola-se à volta do juiz, da doença terminal encoberta que carrega, e duma acusação de homicídio, com base numa suposta vingança pessoal passada, que poderá levá-lo à cadeia e, acima de tudo, manchar a reputação de um dos homens mais ilustres e respeitados da cidade. A menos que o filho o consiga defender, algo que ele a dado momento relutantemente aceita.

O problema é que se no tribunal ainda obtemos algumas cenas com relativa intensidade – com Thornton em bom plano como advogado de acusação –, já no plano familiar as situações de tensão raramente são exploradas da forma crua e quase voyeurista que deveriam ser, de modo a que fossem efectivamente duras e dramáticas. Há sempre um registo demasiado leve, demasiado bonacheirão, com Downey Jr. a mandar umas piadas pelo meio, que acaba por não pegar completamente. E é somente nos momentos em que Duvall agarra o filme que sentimos que está no trilho certo, que a carga dramática e moral é a que queremos.

Por isso é que, à excepção da cena do banho, forte, quase explícita, e que ainda assim não é todo o “soco no estômago” que podia ser, nenhuma das cenas familiares nos deixam impressionados e desconfortáveis como gostaríamos de ficar. A tensão dos diálogos, excelentes, do recente August: Osage County, por exemplo, aqui nunca se sente. De todo. E havia condições para isso.

Com um romance paralelo entre Downey Jr. e Farmiga – linda! –, algo insosso e um desfecho previsível e “limpinho”, The Judge acaba por saber a pouco, tolhido pela incapacidade (ou não pretensão) de David Dobkin em levá-lo para um campo mais ambíguo, mais disfuncional até, mas simultaneamente mais interessante.

Golpes Altos: Duvall, o terno Dale e Billy Bob. (Queria a Vera Farmiga ao meu lado para o resto dos meus dias. Por favor!)

Golpes Baixos: A pouca ambição da realização e, consequentemente, o registo demasiado leve e funny como por vezes o filme é conduzido. Este argumento tinha sumo para uma versão mais fria e cínica. Provavelmente teria dado um melhor filme.

sábado, 15 de novembro de 2014

Magic in the Moonlight


Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Elenco: Colin Firth, Emma Stone, Simon McBurney, Eileen Atkins, Marcia Gay Harden, Jacki Weaver, Hamish Linklater

Nos últimos anos, e desde o delicioso Bullets Over Broadway, Woody Allen já nos habituou a este vagar: adora fazer uma película por ano, é quase sagrado, mas como não consegue manter o nível qualitativo em todas – o que é relativamente normal quando a produção é tão fértil e cadente –, acaba por dar-nos um brilhante de tempos em tempos, como Sweet and Lowdown em 1999, Match Point em 2005 ou Midnight in Paris em 2011, e uns quantos cumpridores no resto do tempo.

Dentro dessa bitola de “filme porreiro para cumprir calendário” há uns melhores do que outros, claro, mas verdade seja dita que raramente há um declaradamente fraco. Allen mantém-se um estupendo contador de histórias, criador de diálogos memoráveis, e isso não muda. E mesmo algum que possa considerar-se menos bom vai muito do gosto pessoal – por exemplo, o único Allen de que não gosto declaradamente nos últimos anos é Cassandra’s Dream (tenho um problema de irritabilidade com o Colin Farrell) mas admito que para muitos o filme até seja aceitável. Da mesma forma que entendo que a gritaria desmesurada dum Vicky Cristina Barcelona agrade a gregos mas não tanto a troianos ou o fresco de alta sociedade que é Celebrity tenha ou não alguma piada.

Dito isto, Magic in the Moonlight é uma dessas histórias que não nos trazem nada de novo, que não nos despertam sensações fortes – o murro no estômago de Match Point, a nuvem de fábula de Midnight in Paris ou o papel de carreira de Cate Blanchett com a sua Jasmine – mas, como quase sempre, faz-nos passar um bom bocado.

O casting é óptimo, com um Colin Firth tão arrogante, céptico e azedo quanto charmoso, subtil e engraçado (admitamos, desde A Single Man que o homem não faz nada mal!), uma Emma Stone que cria uma “luz própria” muito alegre e inocente na sua personagem, um Simon McBurney impecável como amigo, traiçoeiro mas amigo (gosto tanto daquele british carregado e aquele timbre de voz!) e terminando numa deliciosa Eileen Atkins como tia cúmplice e conselheira; a história é simples mas como sempre muito bem contada e com um twist tão esperado mas não menos agradável; e os planos luminosos da Riviera Francesa completam o quadro, quase como contraponto ao “cinzentismo” da personagem de Firth.

Magic in the Moonlight é Allen em piloto automático e não acrescenta nada à sua filmografia e à nossa admiração pelo próprio. Certo, ninguém discute isso. Mas, como quase sempre, é uma hora e meia de cinema que nos sabe bem. E os diálogos brilhantes, em maior ou menor quantidade, aparecem sempre.

Golpes Altos: O elenco (já disse que adoro o Firth?).

Golpes Baixos: O cliché do argumento e sobretudo a carência de novidade e relativa falta de estímulos no cinema de Allen. Mas lá está, com tantos, tantos filmes em cima é relativamente normal.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Isto não é um post - Interstellar

Isto é um desabafo. 

Ontem vi o Filme... sou suspeito... eu com 17 anos, quando me perguntavam "o que querias ser sem pensar em factores que te impeçam de o ser?", eu respondia Astrofísico... por vezes piloto de Rallys mas isso não conta :) 

Troquei "n" mensagens com amigos sobre o Filme, a sensação de esmagamento ou alienação era comum, a sensação de que tudo o que nos rodeia é grande demais também, a sensação que as nossas vidas têm como base estímulos muito pequenos, demasiado palpáveis também... 

Tudo o que debatem no filme é o que mais me fascina nessa área. Juntem-lhe Filosofia e Psicologia tendo em conta o comportamento humano em diversas situações, e têm o Interstellar...acabei de ver, tenho muito para mastigar, mas é para mim das melhores coisas que vi nos últimos muitos anos, pelo menos das que mais mexeram comigo.

Adoro o ser-humano e a capacidade que tem de se apaixonar, de se deixar deslumbrar pelo desconhecido, de procurar respostas todos os dias, de enfrentar o escuro com entusiasmo... Somos todos assim, mas, e se o fôssemos todos os dias? 

Agora dormir com isto tudo na cabeça para acordar novamente no mundo real? No nosso dia a dia? Nas rotinas e sempre perto do palpável? 

Que seca... :)