sexta-feira, 30 de agosto de 2013

RPG

Realização: David Rebordão e Tino Navarro
Argumento: Tino Navarro
Elenco: Rutger Hauer e os 10 piores actores do mundo

Tino Navarro virou Takeshi Kitano da Reboleira


Tino Navarro não gosta do cinema português. Esta é a única explicação para a qualidade do seu último filme. RPG é passado num futuro próximo, em que um grupo de idosos milionários volta à juventude para lutar num jogo pseudo-violento do qual apenas um sairá vencedor. O problema de RPG, é que se fica com a sensação que ninguém ganhou nada – nem o espectador, nem a equipa de produção, nem os actores, nem o país.

Tino Navarro, cuja carreira de produtor começou há mais de 20 anos, terá concluído que o cinema não lhe trouxe nada de bom, e decidido vingar-se da indústria e de Portugal. Juntou esforços com o inexperiente David Rebordão e, juntos, assassinaram o cinema nacional. Foi uma morte triste, porque veio numa altura em que nomes como Miguel Gomes e João Salaviza começam a florescer e a mostrar o que de bom se faz em Portugal. E, como se isto não fosse grave o suficiente, Tino Navarro decidiu ainda arrastar pela lama o actor icónico Rutger Hauer e convencer 10 modelos/apresentadores de que até têm talento para o cinema. Não têm. Tal como não teve Tino Navaro, David Rebordão ou qualquer outro criativo na rodagem deste projecto. A pergunta surge incessantemente ao longo da história: “O que farias para ficar jovem?”. Uma coisa é certa, não voltava a ver este filme.


Artigo publicado em Jornal i

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Elysium

Realização: Neill Blomkamp
Argumento: Neill Blomkamp
Elenco: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Wagner Moura, Alice Braga e Diego Luna


Lembro-me daquele horrível cliché saído do Gladiator - 'What we do in live, echoes in eternity'. A frase, antes de ter sido tomada refém por Ridley Scott no seu épico de Sábado à tarde, pertenceu a Marcus Aurelios (o verdadeiro, não Richard Harris) e aplica-se perfeitamente à carreira do mais recente talento sul-africano Neill Blomkamp. Blomkamp começou a sua carreira como animador 3D em séries e curtas de ficção científica, e teve o seu début como realizador de grandes metragens em 2009 com o aclamado District 9. O filme foi um sucesso, e com razão. A abordagem era brilhante. Blomkamp e a mulher Terri Tatchell resolveram prever um segundo apartheid para a nação arco-íris - desta vez com extra-terrestres em vez de negros ainda que, curiosamente, os maus da fita continuassem a ser os boers (brancos sul-africanos). Para além do argumento, District 9 mostrou o vanguardismo de Blomkamp por detrás da câmera e o talento inquestionável do seu protagonista Sharlto Copley. Com Elysium, fico com a sensação que o bom argumento de District 9 foi mais responsabilidade de Tatchell que de Blomkamp.

Elysium é uma crítica social pouco subtil, com os ricos a terem acesso ao sistema de saúde e os pobres a definharem com doenças terminais. Ok, percebemos a ideia. É legítimo, ninguém gosta de ver ninguém a morrer à porta de um hospital. A única questão é que este tema já foi abordado demasiadas vezes para justificar mais um filme sobre ele. Se já estamos fartos de filmes a criticarem a privatização do sistema de saúde, não me façam falar de filmes de ficção científica. Em cima disto, acrescente-se um argumento fraquinho com diálogos francamente maus e incoerências que, caso o filme fosse melhor, até estaríamos dispostos a ignorar. Outro ponto contra o filme é a direção de actores. O casting é interessante, junta brasileiros talentosos (Wagner Moura), mexicanos menos talentosos (Diego Luna) e uma fufa em hora de despedida (Jodie Foster, finalmente vais-te embora do cinema!). Mas Blomkamp não parece conseguir puxar pelo melhor que há nestes artistas, e o resultado são personagens pouco credíveis com reações pouco espontâneas. Tudo isto, devo dizer, à excepção de Sharlto Copley, que é um dos melhores vilões que tenho visto ultimamente.

O que compensa todas estas falhas, é uma realização espetacular, efeitos magníficos, grandes cenas de acção e o sorriso de Alice Braga. Continuo a gostar de Blomkamp, continuo a achar que é um grande realizador com muito potencial, mas gostava que se rodeasse de uma melhor equipa que o ajudasse a escrever um guião decentemente e a guiar actores de forma a potencializar os seus atributos. E secalhar também já chega de críticas sociais no espaço, que tal uma abordagem mais filosófica? Fica a ideia.


Golpes Altos: Sharlto Copley é um achado. A Realização de Blomkamp, os efeitos e, repito, o sorriso de Alice Braga.

Golpes Baixos: Argumento medíocre e tema esgotado. Péssima direcção de actores.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Golpes Indie - What Maisie Knew

Realização: Scott McGehee e David Siegel
Argumento: Nancy Doyne e Carroll Cartwright (baseado num romance de Henry James)
Elenco: Julianne Moore, Alexander Skarsgard, Steve Coogan, Joanna Vanderham e Onata Aprile


Ter filhos não é para todos. A algumas pessoas, nunca deveria ser permitido procriar. Não quer dizer que sejam más pessoas, com más intenções ou psicopatias latentes. São, normalmente, pessoas egoístas, imaturas, demasiado focadas em si mesmo e nos seus problemas para poderem abdicar da sua existência pela existência de uma criança. Filhos de lares despedaçados raramente dão adultos equilibrados, e esta é uma verdade que falta dizer em voz alta. Se a Igreja Católica nos serviu para alguma coisa - e, admito, não serviu para quase nada - foi para nos dizer que um casamento é eterno, principalmente se envolver uma criança. A "santidade do casamento" não é obra do espírito santo, não existe para glorificar a Igreja - serve para glorificar os seus filhos, que não têm culpa que o mundo seja um lugar frio e difícil.

What Maisie Knew é um livro do escritor realista Henry James. No livro, Maisie é uma criança dividida entre dois pais divorciados, egoístas e irresponsáveis. No livro, James crítica o divórcio, o casamento, as relações, tudo. No livro, Maisie não acaba bem.
No novo filme da dupla Scott McGehee e David Siegel, a história é outra. Os realizadores decidiram manter a perspectiva do filme pelos olhos e pelo entendimento da criança. Essa abordagem está bem feita, a realização é sólida e as coisas que ficam por entender têm uma explicação simples: só sabemos o que Maisie sabe, só sentimos o que Maisie sente.

Paralelamente à história da criança, o filme é uma bonita história de amor contada em plano secundário. Não estamos habituados a isto. Uma boa história de amor é primeira página. Sempre foi. Por isso é refrescante que esta nos seja mostrada pelos olhos da criança, que vê nos seus dois novos pais uma casa que que não conhecia. Quando somos pequenos, e nos vimos apanhados em fogo cruzado entre dois adultos egoístas e irresponsáveis, ficamos com memórias negras e confusas daquilo que foi a nossa infância. Se, como Maisie, tivemos a sorte de ser adotados por duas pessoas puras e boas de coração, as nossas memórias passam a casas de praia, passeios ao pôr do sol, viagens de barco, sorrisos e muito amor. O amor é a coisa mais importante para a memória de uma criança. Nesse ponto, o filme é firme: se não o têm, não tentem ser pais.

O filme conta com um grande leque de actores, um argumento fantástico e uma realização audaz. Todos os elementos parecem funcionar em uníssono e isso traz uma harmonia fresca a um filme que, de outra forma, poderia tornar-se demasiado chato e negro. É uma lufada de ar fresco, quando temas clássicos são abordados por mentes jovens e criativas.


Golpes Altos: Adaptação original e ousada de um romance clássico. Realização sólida e inovadora. Boas interpretações. Joanna Vanderham é uma delícia.

Golpes Baixos: Gostava de ter visto uma melhor banda sonora, e uma melhor publicitação.


sábado, 17 de agosto de 2013

A Gaiola Dourada


Realizador: Ruben Alves
Argumento: Ruben Alves, Hugo Gélin, Jean-André Yerles
Actores: Rita Blanco, Joaquim de Almeida, Roland Giraud, Chantal Lauby, Bárbara Cabrita, Lannick Gautry


Todos já vimos retratos dos nossos emigrantes feitos por outros, pelos que estão do lado de lá da barricada. O Ruben Alves é Luso-Descendente e fez um filme que serve como ele próprio diz para homenagear os Pais... Estamos no bom caminho portanto.

Quem não gostar deste filme tem um problema grave com actores Portugueses, mais que um problema, terá um preconceito que simplesmente não faz sentido.
Quem não gostar deste filme não o vai saber justificar de forma categórica.
Quem não se divertir a ver este filme, tem o humor de um camião TIR...
Quem achar que este filme reduz de alguma forma os Portugueses, não percebeu puto do que se passou nestes 100 minutos.

É um filme fácil de gostar, é um Almodovar com sangue Português que retrata TODOS os clichés do "Emigrante" e é algo assumido. Os retratos têm de recorrer aos clichés, os clichés existem precisamente para serem BEM usados. Estamos perante um caso desses, um filme onde os pormenores são uma perfeita delícia sejam eles em diálogos, em roupas, em adereços, em expressões... TUDO pensado e, acima de tudo, tudo muito sentido e retratado por alguém que viveu uma história semelhante.

História essa que retrata uma família de emigrantes sediados em França, país que viu nascer os seus filhos e que com maior ou menos dificuldade os recebeu bem e lhes ofereceu oportunidades. A dada altura a família recebe uma inesperada notícia: são herdeiros de uma fortuna significativa e... tudo muda a partir daí! Ciumeiras alheias, elogios e benefícios tardios de quem não os quer ver partir, dúvidas, dramas familiares... um autêntico caos à Portuguesa.

Claro que também não gosto que falem em Francês em casa.
Claro que também preferia que eles não tivessem enfiado ali a Maria Vieira.
Claro que me chateia que 70% dos risos na sala sejam quando eles dizem asneiras numa forma de humor muito fácil.
Claro que não é um filme de topo...

Mas ADOREI vê-lo e aconselho a todos os que gostarem de se divertir a ver um bom filme. Entretenimento puro, coisa que é raro vermos quando temos Portugueses associados, pelo menos no que toca a Cinema.


Golpes Altos: Os pormenores, a boa disposição, a Rita Blanco (digo e repito, é das melhores Actrizes que já vi... Está ao nível das melhores de Hollywood), o Joaquim de Almeida a fazer de Pedreiro, as miúdas giras que aparecem (e sim, também aparecem miúdos giros...), a Realização!

Golpes Baixos: Porquê o Francês em casa? Para pouparem nas dobragens? A Maria Vieira? A sério?


PS: Adoro ser Português.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

The Lone Ranger

Realização: Gore Verbinski
Argumento: Justin Haythe, Ted Elliott e Terry Rossio
Elenco: Armie Hammer, Johnny Depp, William Fichtner e Tom Wilkinson

Tempos houve em que os grandes ícones do Oeste americano simbolizavam alguma coisa. Tempos houve em que os heróis que pisavam a terra transmitiam valores, lutavam em nome do bem, cavalgavam qual justiceiros alados em busca de justiça! Pronto... excedi-me um pouco. Mas a verdade é que, nos dias que correm, valores como a justiça e a integridade são geralmente postos de lado, em prol de ganâncias, corrupções e outras maleitas monetárias.

Gore Verbinski é um realizador de massas, aparentemente sem grande talento nem grandes aspirações intelectuais. A sua grande obra até ao momento foi o aterrorizante The Ring, que trouxe um novo fôlego ao cinema de horror e deixou a sensação de que talvez Verbinski seja apenas mais um realizador incompreendido, perdido no grande oceano da indústria americana. Depois seguiram-se os blockbusters das aventuras de Jack Sparrow e cedo esquecemos o nome do realizador, associando-o à decadência artística de Johnny Depp e do cinema franchising. Com The Lone Ranger, Gore Verbinski não só limpou o seu cadastro, como fez as pazes com o cinema de aventura. O problema, digo eu, é que o filme corre o risco de ficar incompreendido.

O filme ressuscita a história do Mascarilha e do seu fiel amigo Tonto - ou será Tonto e o seu fiel amigo Mascarilha? Seja como for, a história remonta aos anos '50, entre populares livros de quadradinhos e menos populares tentativas no grande ecrã e conta como, em tempos difíceis, bons homens são obrigados a usar máscaras. É uma grande crítica social à destruição do velho Oeste pela construção de caminhos de ferro e pela incessante fome da industrialização. Associa-se a isto um conjunto de bons valores, materializados na loucura do índio Tonto que, pela mão de Verbinski, larga a pele do personagem subserviente de "fiel companheiro" e se torna uma personagem com vontade própria, com sede de vingança. Na versão de Verbinski, Tonto é mais inteligente e mais capaz que o Mascarilha. No início do filme, é Tonto quem está esquecido, deixado a apodrecer num museu para ser encontrado por uma criança vestida de cowboy. Gosto de acreditar que essa criança é Verbinski, são os seus três guionistas e somos todos nós. Os nossos heróis não nos deixaram, mas nós virámos-lhes as costas, deixando-os para serem tratados como peças de museu.

The Lone Ranger é uma oportunidade para nos lembrarmos de como era ter exemplos de justiça, de como se podem fazer bons filmes de aventura, repletos de referências que vão de John Ford a Buster Keaton, fazendo-nos rir e apertar as mãos de emoção com os benefícios das grandes produções e dos efeitos CGI. O novo Mascarilha não é um filme perfeito, não me deixem enganar-vos. É demasiado longo, tem partes um pouco chatas e Armie Hammer não foi a melhor escolha possível. No entanto, é um filme bem intencionado, cheio de bons valores, que nos faz pensar no rumo que as coisas levaram. A sociedade evoluiu no sentido errado, não há dúvida. Nas palavras do índio Tonto - 'Nature is out of balance, Kemosabe'.


Golpes Altos: Um filme feito com o coração, de um amante do cinema de aventura. Bem escrito e bem interpretado, é uma aposta segura para uma ida ao cinema.

Golpes Baixos: A duração, algumas cenas demasiado longas e um Armie Hammer fraquinho.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

The Bling Ring

Realização: Sofia Coppola
Argumento: Sofia Coppola
Elenco: Katie Chang, Israel Broussard, Emma Watson e Leslie Mann


A desilusão era garantida. Sofia Coppola habituou-nos a obras profundas e introspectivas sobre pessoas solitárias e interessantes. As suas “Virgens Suicidas” foram uma ode às dores de crescimento, o seu “O Amor É Um Lugar Estranho” trouxe uma inesperada doçura à paixão platónica. Com “Bling Ring – O Gangue de Hollywood”, Coppola virou definitivamente a página e, inevitavelmente, piorou o livro.

A história é verídica, e isto são as más notícias. Em 2009, um grupo de miúdos ricos e obcecados com celebridades invadiram as casas de alguns dos seus ídolos – entre os quais Paris Hilton e Lindsay Lohan – e furtaram objectos de luxo no valor de mais de 4 milhões de dólares. A história foi explorada pela revista “Vanity Fair” e deixou em Coppola a vontade de juntar a sua mestria técnica a uma crítica à cultura de massas. A crítica está bem feita, o filme vale pelo talento técnico de Coppola, pela banda sonora ousada e pela cinematografia do génio Harris Savides, que, infelizmente, faleceu poucos meses após a rodagem do filme.

O tema é válido: as nossas crianças são vítimas da espiritualidade new age, da cultura de massas e da excessiva complacência de pais pouco atentos. “Spring Breakers” tentou uma abordagem a este fenómeno e falhou. Coppola, ainda que subaproveitada, respeitou o compromisso assumido.


Artigo publicado em Jornal i - 08/08/2013

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Conversas de Café - "Para mim a melhor série de sempre é..."

Existem vantagens. Uma série acompanha-nos durante anos da nossa vida. Conhecemos os personagens a fundo, mergulhamos na sua rotina, nos seus problemas. Ligamo-nos a um personagem, deixamo-lo entrar na nossa vida e dificilmente o esqueceremos. Quando damos por nós, estamos a recordar momentos passados com "isso foi na altura em que saiu aquele episódio de Sopranos na neve" ou "voltámos a namorar mais ou menos na mesma altura em que se descobriu o que era a ilha".

Existem séries e séries. Tomo a liberdade de ignorar por completo aquelas de "um caso por episódio", e concentrar-me naquelas que glorificam o nome do cinema. Aqui vai uma lista (não liguem à ordem), mas tomem a liberdade de acrescentar.


1 - The Sopranos. Parece-me difícil tirá-la do pódio, mas há malucos para tudo.

2 - Deadwood. Ou, como ficou conhecida, The Sopranos of the Wild West. É uma série curta, mas boa. Podia ter durado mais tempo, merecia mais.

3 - Mad Men. A Grande Depressão nunca teve tanta classe. Diz-se que a magia se perdeu quando o passado de Don Draper deixou de ser um mistério.

4 - Friends. Discutivelmente a melhor sitcom de sempre. Raios te partam, Seinfeld.

5 - Seinfeld. A série mais lucrativa de sempre, e também a mais amada.

6 - The X Files. A grande série de ficção científica! Espera... e o Star Trek? E o Espaço 1999? Pronto, ok, este não.

7 - The Shield. Policias corruptos, mesmo muito corruptos. Limpou a má imagem das séries policiais para sempre. espera... e The Wire?

8 - The Wire. Discutivelmente a segunda melhor série de sempre?

9 - Boardwalk Empire. Martin Scorcese juntou-se à equipa por detrás dos Sopranos. Não tinha como correr mal.

10 - Breaking Bad. A coisa está pelo fim e, se não desiludir, caminha a passo largo para o pódio.

11 - Beverly Hills 90210. Calma... estou a brincar. Mas acho que o The OC tem lugar aqui.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

The Iceman

Realização: Ariel Vromen
Argumento: Morgan Land e Ariel Vromen
Elenco: Michael Shannon, Winona Ryder, Ray Liotta e Chris Evans


O que aconteceu aqui não foi bonito. Richard Kuklinski matou mais de 100 pessoas (ou 200, sendo que existe uma discrepância entre os valores das legendas americanas e portuguesas) a sangue-frio. Matou-as porque alguém lhe pagou para o fazer, mas também porque era um sádico traumatizado psicopata. Mas isto não choca assim tanto. O mundo está cheio de malucos. O que choca, é fazer-se um filme tão vazio, tão medíocre e tão inconsequente como este The Iceman.

Não sendo um filme horrível, The Iceman consegue agarrar numa história perfeitamente válida, e construir uma trama foleira que assenta sobre um único princípio sobre o qual todo o universo e todas as personagens do filme se regem: Richard Kuklinski era um assassino, mas também era um homem de família. Ok. Então mas não querem explorar melhor a complexa natureza do psicopata? Não querem mostrar pormenores dos negócios em que esteve envolvido? Não querem tornar uma biografia aborrecida num filme minimamente artístico? Não. Ariel Vromen não quis nada disso.

O que Ariel Vromen - realizador imberbe de origens judaicas e talento reduzido - quis fazer com este filme, foi tentar misturar o seu entendimento de um filme Scorceseano com uma biografia do canal história. O resultado foi uma produção medíocre que, com a ajuda de um elenco semi-válido, conseguiu projecção suficiente para pagar os custos de produção. É uma pena. Um realizador mais ousado e mais talentoso teria transformado esta história em algo mais. Teria explorado planos de autor, cenas fantásticas em que conseguiríamos espreitar para dentro da alma do assassino. Em vez disso, temos meia dúzia de mortes descontextualizadas - uma delas a do personagem de James Franco que, honestamente, a única coisa que faz bem é cair para o lado morto -, uma visita ao irmão na prisão, uma recordação de umas chicotadas do pai e um ataque de fúria junta da mulher e das filhas.

Pelo meio, temos uma personagem interessante - Mr. Freezy, interpretado por Chris Evans. De facto, Mr. Freezy é tão mais interessante que The Iceman, que me fez pensar porque raio é que não escolheram um em vez do outro. Gostaria de ter visto mais do personagem de Evans, tal como gostaria de ter visto Ray Liotta a fazer qualquer outro personagem que não um mafioso desautorizado pelo seu chefe - Ray, já chega. Enfim, The Iceman é um filme datado por um realizador sem visão e sem identidade. Um conselho para Ariel Vromen: vai fazer documentários!


Golpes Altos: Interpretação de Michael Shannon, Chris Evans, Winona Ryder e as duas miúdas. Cena da discoteca é uma pérola face ao ambiente semi-gélido do filme.

Golpes Baixos: Um filme sem talento, escrito por um guionista sem talento que, veja-se bem, também é um realizador sem talento. Mediocridade na sua forma mais pura. David Schwimer a tentar ser um mafioso é como ver o Ross dos Friends a tentar não ser o Ross dos Friends.

sábado, 3 de agosto de 2013

Golpes Indie - Drinking Buddies

Realização: Joe Swanberg
Argumento: Joe Swanberg
Elenco: Olivia Wilde, Jake Johnson, Anna Kendrick e Ron Livingston


Há certos filmes com os quais nos identificamos. Quer nos identifiquemos com um personagem, com uma situação, com uma profissão ou com uma frase - gostamos imediatamente dele. Neste novo género de comédia de relações indie, não é raro isto acontecer. Mas algumas, deixam-nos no fim uma sensação de não querer sair do filme. Sentimos que aquela podia ser a nossa vida, aquelas podiam ser as cores da nossa roupa, aquela podia ser a banda sonora do nosso dia. Drinking Buddies é um desses filmes.

Esta comédia de relações esconde um drama sentido e verdadeiro acerca de almas gémeas, de laços fortes e de escolhas erradas. É a história de dois melhores amigos que podiam ser casados mas, em vez disso, escolhem outras pessoas com quem partilhar a vida. Ao longo do filme ocorrem trocas, dúvidas e conflitos, mas a relação dos dois personagens principais mantém-se inalterada. A tensão sexual está construída de uma forma tão realista que nos puxa para dentro da história e nos faz não querer sair.

Luke (Jake Johnson) e Kate (Olivia Wilde) partilham tudo na vida. O interesse por cerveja, o sentido de humor derivado da cerveja, a postura relaxada, a má alimentação, o enorme carinho que têm um pelo outro. No entanto, escolhem duas pessoas totalmente diferentes de si, cada um pelas suas razões. Podemos passar o filme todo a questionar-mo-nos sobre o porquê de não ficarem juntos mas, no final do dia, a resposta é simples: é a vida.

Na vida nem tudo é como devia ser. Na vida cometemos erros, falhamos momentos, não vimos o que está à nossa frente, deixamos ressentimentos toldar-nos o coração. Na vida, temos que aceitar as coisas como são e, ultimamente, agarrar-nos às boas relações que nos fazem sentir um bocadinho mais quentes nos dias de inverno, e um bocadinho mais frescos num dia de verão.


Golpes Altos: Jake Johnson está rapidamente a tornar-se um dos meus actores preferidos e Olivia Wilde está rapidamente a tornar-se a GAJA MAIS BOA E LINDA DE SEMPRE - aparece nua neste filme.

Golpes Baixos: O filme merecia mais uma meia hora de conclusão. Não queria parar de ver as vidas dos personagens.