domingo, 31 de março de 2013

Guilty Pleasures - Con Air (Fortaleza Voadora)

Realização: Simon West
Argumento: Scott Rosenberg
Elenco: O melhor de sempre a seguir ao Armageddon!

Há filmes bons, filmes muita bons, filmes que não mudo de canal se estiverem a dar, e há o Con Air. Objectivamente, Con Air é um Golpe de Génio. Tem um argumento sólido (dentro do género), um elenco de luxo, grandes personagens, cenas de acção maravilhosamente filmadas e... ah! espera... temos o problemazinho dos diálogos. Ok, objectivamente Con Air não é um Golpe de Génio. Mas é um dos meus filmes de acção preferidos.

Nicky Cage é Cameron Poe - uma arma humana tão mortífera que, mesmo quando dois bandidos tentam violar-lhe a mulher e esfaqueá-lo, acaba por ser enviado para uma prisão de alta segurança sob o argumento de que "Epah Nicky, tu és TÃO forte a dar pancada, que 'tás proibido de o fazer. Por isso, a próxima vez que alguém te tentar comer a mulher e esfaquear, põe-te masé quieto!". Eu percebo, e acho que também deviam proibir o Nicky de usar cabelo comprido. Só porque não está certo alguém ter TANTO estilo!

E assim, o Governo dos Estados Unidos comete o maior erro desde o Vietname, e larga Nicky Cage num avião de alta-segurança, destinado a transportar os maiores, mais rijos, mais feios criminosos do mundo - e o Steve Buscemi - para outra prisão de alta-segurança. E quem é que está lá dentro? John Malkovich, Ving Rhames, Danny Trejo, Dave Chappelle (han?), um gajo chamado "Coisa do Pântano", um travesti espanhol, Steve Buscemi e um pobre desgraçado que ameaça o coelho de peluche do Nicky Cage... BIG MISTAKE!

E, como se o elenco não estivesse já incrível, ainda acrescentamos John Cusack como "toninho adjuvante" e uma gaja muita gira como mulher fiel que ia sendo violada mas depois esperou anos pelo regresso do seu marido. Meu Deus, estou sem fôlego. Que filme!!!

E só para terminar em grande, digo-vos que o senhor responsável pelo argumento do filme, Scott Rosenberg, é um prestigiado argumentista de Hollywood, que transformou em guião o livro High Fidelity do Nick Hornby, escreveu a minha comédia romântica preferida de sempre - Beautiful Girls - e ainda um clássico dos teen-movies dos anos '90 Disturbing Behavior. Por isso, e por todos os motivos evocados em cima, e por mais alguns que agora me escapam, Con Air é um Guilty Pleasure assumidíssimo e domingueiro. E como hoje é domingo de Páscoa, não resisti ao pior trocadilho de sempre: 'put the chocolate bunny back in the box'. Desculpem.


Golpes Altos: Elenco de luxo, cenas de acção, elenco de luxo, cenas de acção...

Golpes Baixos: Nicky... há um certo ponto na vida de um homem, em que o cabelo já não é suficiente para se usar comprido... 'Ah, mas o Santana Lopes também usa!' Eu sei... Mas o Santana Lopes não é exemplo para ninguém... em nada... muito menos em estilo. Danny Trejo, tu... podes usar o cabelo como quiseres... não tenho nada a ver com isso.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Promised Land

Realização: Gus Van Sant
Argumento: Matt Damon e John Krasinski
Elenco: Matt Damon, John Krasinki, Frances McDormand e Rosemarie DeWitt


É o meu tipo de filme. Enche-me as medidas. É um filme sobre boa gente, de boas terras, com bons valores, que não cai em estereótipos, não se deixa levar por idealismos e conta uma história que tem que ser contada - da melhor forma possível.

Não sou um ambientalista. Não sou de esquerda, não sou pacifista, não sou vegan nem sou activista pelos direitos sociais, das mulheres ou das minorias. De facto, aprendi com o tempo que me insiro naquela desprezível categoria de pessoas que tende a afastar qualquer valor que colida com o seu próprio bem-estar. Dificilmente sinto pena de alguém e parto de um simples princípio que "se a maioria concorda, é porque provavelmente é mentira". Sou um cínico, muito prazer. Não é nada de que me orgulhe, mas também não é motivo para grandes introspecções. "I'm not a bad man", diz o personagem principal do filme, repetidamente, para si próprio e para os que o rodeiam. E de facto não é. Porque não existem más pessoas neste filme, existem pessoas complexas, boas e más, dependendo do que lhes é permitido fazer com as ferramentas que têm à mão.

Em Promised Land, vimos uma abordagem esclarecedora ao tema do gás natural - da sua substituição dos diabólicos carvão e petróleo, das empresas que o implantam, das terras que destrói. Confesso que não estava dentro do tema e, quem não estiver, não se preocupe, o filme não podia ser mais esclarecedor. E a forma como este argumento brilhante vai abrindo caminho por entre um tema tão forte, sem nunca lhe dar demasiada importância, é fantástico. "We're not fighting for land, we're fighting for people" - e é esta a base do argumento: não é um filme sobre causas, é um filme sobre pessoas. E divide-se entre os dois personagens principais, um de cada lado da vedação e a razão? Essa vão vê-la por vocês mesmos.

Gus Van Sant é um excelente realizador. De facto, é um caso insólito porque é um dos meus realizadores preferidos tecnicamente, e um dos que eu mais detesto em termos de filmografia. Isto deve-se maioritariamente ao facto de ele deixar as suas escolhas sexuais virem ao de cima em grande parte dos seus argumentos, e isso é sempre limitativo. Mas neste caso, tal como em Good Will Hunting e Gerry, deixou Matt Damon (e John Krasinski) trabalhar por ele. E que parceria! E que filme! Sério, emotivo, apaixonado, verdadeiro, simples e bonito. Eu gosto das pessoas deste filme, gosto dos argumentos, gosto das vidas. Talvez um dia o cinismo desvaneça, e o mundo se mostre um lugar mais bonito para pessoas como nós. Filmes como este, sempre dão um empurrãozinho.


Golpes Altos: Matt Damon e John Krasinski. Que dupla. Produzem, escrevem e protagonizam o filme a meias. Krasinski é uma revelação. Gus Van Sant provou ser um grande profissional de cinema.

Golpes Baixos: Lamento dizer isto, mas não morro de amores por Hal Holbrook. Acho-o fora de forma como actor. Está velho de mais para aparecer num filme. Tem mau aspecto e parece que a qualquer momento pode cair pro lado e lá se vão meses de filmagens.


terça-feira, 26 de março de 2013

Seven Psychopaths

Realização: Martin McDonagh
Argumento: Martin McDonagh
Elenco: Colin Farrell, Woody Harrelson, Sam Rockwell, Christopher Walken, Tom Waits e Olga Kurylenko

Bem... esta vai ser difícil, mas aqui vai: Seven Psychopaths não presta. É um daqueles filmes que funcionaria, caso tivesse sido bem feito (uma espécie de Moeda Única Europeia, versão Hollywood). Mas comecemos pelo que joga a seu favor.

O elenco de luxo já seria uma grande ajuda, caso as personagens fossem minimamente decentes. Sam Rockwell e Christopher Walken estão óptimos. Têm graça e os personagens são minimamente complexos (minimamente). Os restantes "psicopatas" mais valia não existirem. O filme poderia chamar-se Two Psychopaths e aposto que funcionaria muito melhor - pelo menos não tínhamos de dividir a atenção entre sete (mas são mesmo sete? é que às tantas nem se percebe) personagens que alguns são quase figurantes.

E depois temos o Colin Farrell... Quem no seu perfeito juízo é que decide pôr este gajo a fazer de coitadinho inseguro ou - mais grave ainda - de INTELECTUAL?! Não se via um erro de casting destes desde que decidiram que o Russel Crowe dava um bom génio da matemática!

O realizador e escritor deste filme teve uma estreia bastante boa: In Bruges é um filme que cumpre os requisitos e até os supera em algumas situações. Boas personagens, boa história e boa concretização. Em Seven Psychopaths mete os pés pelas mãos. Pessoalmente, confesso já não ter grande paciência para filmes cheios de personagens e cheios de reviravoltas, plot points, twists e "a movie within a movie kind of thing" - por isso já adivinhava a banhada que poderia sair daqui.

Martin McDonagh, não sabes que "simples é o novo complicado"? Mantém-te atento às modas, já que queres fazer um filme cool. Deixa este género para aqueles anos cinzentos em que estrearam mil filmes iguais ao Smokin' Aces! Inventa, aventura-te, surpreende-me... mas, acima de tudo, se vais pôr a Olga Kurylenko num filme, ao menos despe-a só um bocadinho!


Golpes Altos: Christopher Walken, Sam Rockwell, uma realização semi-dinâmica e... não sei... acho que mais nada.

Golpes Baixos: Argumento = Lixo; Colin Farrell a fazer de mariquinhas; Olga Kurylenko com demasiada roupa; repetição de tantos filmes iguais ou parecidos... já chega.


segunda-feira, 25 de março de 2013

Golpes de Génio - La Notte

Realização: Michelangelo Antonioni
Argumento: Michelangelo Antonioni
Elenco: Marcello Mastroianni, Jeanne Moreau e Monica Vitti

O dia serve de prelúdio. Giovanni e Lidia caminham em direcções opostas, numa cidade triste feita de ruas despidas e reflexos esbatidos. Antonioni filma este dia na cidade, como se esta fosse demasiado alta para o casal se encontrar e demasiado estreita para poderem respirar. Dá uma constante sensação de labirinto. Um labirinto de cimento que sufoca duas pessoas cujos melhores anos já passaram há muito.

Giovanni é um passivo, um resignado que evita olhar para Lidia, com medo que o olhar possa sugerir uma intimidade para ele perdida. Lidia é um enigma (pelo menos para mim, que sou homem). Está numa crise. Percebe a indiferença do marido e passa o filme todo a vaguear sozinha - à espera de encontrar algo. No principio, pareceu-me serem um casal em sítios diferentes da relação, mas depois percebi que não. São apenas duas pessoas diferentes no mesmo sítio - onde, nas palavras de Giovanni, já não têm ideias.. só memórias.

O dia acaba, e o casal decide ir a uma festa. É nesta festa que tudo se passa - o que interessa é a noite. E, quando a noite acaba, o filme acaba com ela. La Notte segue a tradição do cinema italiano dos anos 60/70. É um filme alegórico, mas realista. Vale pelos diálogos brilhantes, e pela abordagem seca que faz do amor e da vida. A grande diferença entre La Notte e o La Dolce Vita é que, enquanto este último fala de um homem, La Notte divide a sua atenção entre os dois elementos do casal, dando-nos oportunidade de aprender com os dois, de analisar a relação dos dois, espelhá-la na nossa própria experiência de vida, e retirar algum ensinamento.

O filme insere-se na 'Trilogia da Alienação' de Antonioni. É o segundo, precedido pelo L'Avventura e precedendo L'Eclisse. A crítica recebeu mal o filme, muito provavelmente porque o mundo ainda não estava preparado para ver este tipo de cinema. Actualmente, é uma lufada de ar fresco ver um filme com mais de 50 anos que nos parece mais contemporâneo que os do nosso tempo.

O filme não é bem-disposto, porque o tema em si é pesado e os personagens demasiado realistas. Mas segue a tradição italiana dos comic reliefs por meio dos diálogos subtis e inteligentes. E eu evito utilizar esta palavra para caracterizar filmes. "Inteligente" soa sempre a pretensioso. Mas na verdade não existe outra forma de o colocar. É um filme inteligentemente escrito, que nos leva a sentirmo-nos menos sozinhos no mundo. Afinal não estou assim tão desalinhado, non é vero Michelangelo?


Golpes Altos: As personagens, os diálogos, a realização - A REALIZAÇÃO!!! - a cinematografia, a edição, a banda sonora... oh well... ah e a cena final... que cena final!

Golpes Baixos: Errr...

sábado, 23 de março de 2013

Submarine


Realizador: Richard Ayoade
Argumento: Richard Ayoade
Actores: Craig Roberts, Sally Hawkins, Paddy Considine

O Richard Ayoade e o seu fantástico cabelo conquistaram-me na incrível série "The it Crowd". No entanto, desta vez ele está escondido a realizar o seu primeiro filme produzido pelo Ben Stiller. Qual o resultado desta dupla um pouco improvável? Um excelente filme...

Uma comédia-romântica que conta a história de um jovem de 15 ou 16 anos que está a passar por enormes problemas naquela que é a fase mais conturbada de um ser-humano... a adolescência... Não, não é o típico teen movie onde as gajas são boas, os gajos são giros, onde há imensa droga e discotecas fashion... onde há sexo e mais sexo, mamas e mais mamas. Aqui os jovens são normais, não são giros, não são super fashion e são bastante desajeitados.
Aqui usam farda, ela é gordinha, os Pais não são autoritários, os amigos não praticam nenhum desporto que os distinga dos outros, gostam de coisas simples, de sítios simples, não são lamechas, dizem coisas que não devem, não choram por tudo e por nada, ouvem música com K7's e filmam em Super 8.

O rapaz tem problemas em casa, fora de casa, na escola, não tem para onde se virar. Uma ode à família, às paixões, à adolescência e é inevitável identificarmo-nos com algumas "loucuras" que um jovem desta idade tem a passar-lhe pela cabeça.

Uma abordagem surpreendente dividida em capítulos, com detalhes que adorei e me agarraram desde início. É daqueles filmes que percebemos logo nos primeiros minutos que nos vais surpreender. Não há cá Fade to Black mas sim Fade to Blue ou Fade to Red, e não é que fica bem?

Os personagens parecem tirados de um filme do Wes Anderson embora mais expressivos e acima de tudo mais faladores. Adoro a construção dos 2 personagens principais, gosto que não sejam especialmente "fixes" e que tenham defeitos. Fez-me lembrar um pouco o Igby Goes Down mas com os personagens mais caricaturados colocados em situações mais cruas e mais reais, daquelas menos captadas em cinema. Isto dá obviamente uma dimensão bem maior à obra.

Aconselho a todos, é muito divertido, tem piadas óptimas que primam por não serem explicadas até à exaustão. É um filme em nada óbvio, em nada previsível e que fica, ao contrário de tantos outros, na memória.


Golpes Altos: Realização muito dinâmica e muito assertiva, nunca se torna presunçosa e consegue fugir a TODOS os clichés. A história é excelente e está, como gosto, bem contada.

Golpes Baixos: Não ter tido mais mediatismo porque merecia.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Robot & Frank

Realização: Jake Schreier
Argumento: Christopher D. Ford
Elenco: Frank Langella, Peter Sarsgaard, Liv Tyler, Susan Sarandon e James Marsden

A memória é uma coisa estranha. Usamo-la a vida toda em nosso próprio proveito, descartando-a quando não nos serve um bom propósito. É "selectiva" - ou pelo menos é o que me têm dito. Invariavelmente, começa a deteriorar-se e, no fim, abandona-nos. Se pensarmos um pouco, a nossa relação com a memória não é muito diferente de qualquer outra relação íntima.

Frank é um homem solitário, e a memória começa a falhar-lhe. "Vivi uma vida colorida", explica Frank, pintada por ocasionais roubos e ocasionais tempos na prisão. A brincadeira custou-lhe uma relação com os filhos, e com a mulher. Mas Frank não parece preocupar-se. É um daqueles homens que não aprecia pessoas, e o mesmo se aplica aos que lhe são mais próximos. Por isso, quando o filho o convence a viver com um "Robot Enfermeiro", Frank não salta de alegria.

Robot & Frank é uma belíssima obra de cinema. É um filme divertido, fácil de se ver, mas com uma carga emocional latente que nos vai apanhando de surpresa até ao último segundo. O filme trata a solidão e a velhice de ânimo leve, sem nunca ser deprimente, mas mostrando-nos o que erros do passado nos podem custar no futuro. Mas mais que tudo isso, é um filme sobre a descoberta da amizade, e os efeitos do amor. Frank esqueceu a mulher quando ela o deixou. Escolheu tornar-se indiferente aos filhos porque provavelmente o lembravam dela, e começou a definhar numa casa longe da civilização. E aqui entra o Robot.

E o engraçado no filme é que nada que Frank sinta ou pense é explicado ou verbalizado, mas subentendido. Nós interpretamos Frank, deduzimos parte do seu passado e achamos compreender o que sente. E esta subjectividade do argumento - com uma fenomenal ajuda de Frank Langella, um actor que esperou a vida toda para mostrar que é óptimo - permite-nos também identificarmo-nos mais com o filme, porque deixamos nele um bocadinho de nós. Por isso pode ser que a minha leitura seja diferente da vossa - e também por isso vou evitar entrar muito dentro da história, prefiro que vejam o filme. A mim fez-me verter uma lágrima, e fez-me pensar no que é a família, e no que é o caminho que um homem tem de percorrer sozinho - quer queira, quer não.


Golpes Altos: Argumento e interpretação de Frank Langella. Ah... o regresso de Liv Tyler é bem vindo: Liv, decididamente não sais ao pai!

Golpes Baixos: A voz de Peter Sarsgaard para o Robot - quase 50 anos depois do Kubrick, e ainda ninguém aprendeu a dar uma voz mais humana à coisa?


quarta-feira, 20 de março de 2013

Golpes de Génio - True Romance

Realização: Tony Scott
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Christian Slater, Patricia Arquette, Gary Oldman, Dennis Hopper, Brad Pitt, Val Kilmer, Christopher Walken, Samuel L. Jackson e James Gandolfini

A ficção é melhor que a vida. No mundo real não há espaço para um amor verdadeiro, para um romance a sério. No mundo real, um jovem solitário é um jovem solitário, e pode descansar a cabeça sabendo que nenhuma das suas idiossincrasias será partilhada por uma jovem loira de lábios carnudos e sorriso frágil. Já no cinema, a história é diferente.

True Romance foi escrito por Quentin Tarantino, mas realizado por Tony Scott. E porquê? Provavelmente porque Tarantino ainda estava no início da sua carreira. Tinham passado meses desde o seu début com Reservoir Dogs, e a crítica ainda estava a digerir o homem que revolucionou o cinema na década de '90. Scott, por outro lado, já estava bem lançado. Uma carreira comercial pouco ambiciosa, que encarava o cinema como entretenimento mas não se deixava envergonhar. Juntaram-se - "e tudo vai pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis".

O filme é indubitavelmente mais propriedade de Tarantino que de Scott. Podemos vê-lo em cada diálogo, em cada linha narrativa. Cada situação mais insólita, cada personagem progressivamente mais estranha. Mas Scott dá-lhe o equilíbrio que por vezes falta a Tarantino. Ajuda-o a manter uma certa sobriedade num argumento que tem de tudo menos de sóbrio. E o resultado é uma obra-prima. Para mim é o melhor argumento de Tarantino, e certamente o melhor trabalho de Tony Scott.

O elenco já o referi em cima. É um desfile de estrelas, todas com aparecimentos de curta-duração. Confesso que, se me fosse dada a oportunidade de fazer um casting para um filme meu, dificilmente fugiria do escolhido neste filme. É uma junção dos homens mais estranhos e talentosos do cinema moderno - sendo certo que uns tiveram uma carreira de sucesso, e outros morreram na praia. E depois temos Patricia Arquette. Patricia, onde estiveste tu a minha vida toda? No Lost Highway não te dei devida atenção, e ultimamente estás gorda e inchada e perdeste todo o teu carisma. Mas aqui... que sonho. Patricia, se pudesse escolher uma mulher para mim, escolhia-te a ti, tal e qual como estás aqui. Alabama, prostituta há 4 dias mas de coração puro e cheia de amor para dar.

E assim se fazem filmes - para aquecer corações solitários e imaginações férteis. Para nos fazer sonhar que algures no mundo há um sítio onde o carro de um homem é o seu cavalo, onde os cigarros entortam para baixo e as mulheres nunca nos deixam. Onde uma loira com um decote gigante e olhos sonhadores nos aquece a cama enquanto vimos um filme de acção, e nos sussurra no ouvido as três únicas palavras que queremos ouvir: "you're so cool, you're so cool, you're so cool".


Golpes Altos: Gary Oldman com rastas e dentes de ouro? James Gandolfini com algum cabelo? Brad Pitt constantemente pedrado? Patricia Arquette constantemente nua? E, em cima de tudo isto, honestamente um dos argumentos mais bem escritos que vi na minha vida. Isto é cinema! Mais a banda sonora que é óptima, e a cena de abertura que é histórica!

Golpes Baixos: Filmes como este deixam-nos com um sorriso melancólico. E com a estranha sensação de que - como disse um certo soprano da televisão - o melhor já passou, e nós chegámos no fim.

segunda-feira, 18 de março de 2013

De Rouille et d'Os

Realização: Jacques Audiard
Argumento: Jacques Audiard
Elenco: Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts

Esta é a história de dois corpos. Duas massas, duas matérias e duas forças. As almas, essas ficaram para trás. De Rouille et d'Os trata da fragilidade humana. Do que o nosso corpo consegue ou não suportar, e da vida que existe para além dele.

Stéphanie trabalha no jardim zoológico. Comanda um exército de baleias assassinas, treinando-as para saltar, acenar, e avançar ao seu comando. E fá-lo com a determinação e a graciosidade que faltam à sua vida. Ali é um perdedor. Um vagabundo com uma criança ao colo. Uma besta que conta apenas com a sua força para ganhar a vida. Ali não pensa, age. Tudo o que faz é físico. Para trabalhar, luta. Para amar, fode. Ela chama-o assobiando, como às suas orcas. O animal terno e imprevisível. Conhecem.se fruto de violência, de sangue, de incapacidade - e a viagem que os espera vai fazê-los crescer como seres humanos, sentindo o seu próprio corpo como divino, sagrado. E é maravilhosa a forma como o realizador acompanha este filme, sempre no mesmo tom, sempre no mesmo sentido. Nunca parecendo deslocado.

Estamos perante uma obra-prima e definitivamente o segundo melhor filme do ano. Haneke fica no pódio, mas Audiard ganhou o segundo lugar. E eis que a Europa renasce das cinzas. Passaram os anos 60 e o tempo da contestação social. Os franceses largaram a ideologia e agora falam de pessoas - o cinema só tem a ganhar com isso.

Ao longo do filme, a realização de Audiard vai-nos transmitindo sensações que por palavras soariam falsas. Ele é uma rocha, ela está deprimida - mas nós vamos percebendo o que pensam, vamos conhecendo o que são e, acima de tudo, vamos sentindo o que sentem. Sentimos o sol a queimar-lhe a cara quando ela sai de semanas fechada no quarto, sentimos os dentes dele a bater no alcatrão enquanto lhe partem a cara num combate de rua - sentimos o gelo a abrir-lhe a mão enquanto tenta furiosamente salvar a vida ao seu filho.

Olhos mais sensíveis devem ter precaução. Este não é um filme fácil. Mostra-nos a vida tal como ela é: o melhor e o pior, o feio e o bonito, o bom e o mau, o forte e o fraco. Odiamos e amamos os dois personagens à medida que os conhecemos. Respeitamos as suas potencialidades e desprezamos as suas incapacidades. Mas somos seres-humanos. Somos multi-dimensionais, e também o são os personagens.

A história evolui ao longo de duas horas, e quando acaba parece que os conhecemos há anos. Ficamos a querer ver mais, a querer saber mais. A querer continuar a olhar o mundo através dos olhos de Audiard. É um mundo mais seco, mas mais resolúvel. À semelhança dos seus outros dois sucessos - Un Prophet e De Battre Mon Coeur S'est Arrêté - este filme faz-nos acreditar que tudo na vida tem uma solução, que todo o caminho acaba - e o fim só depende de nós.


Golpes Altos: Interpretações dignas de dois Óscares (ou secalhar são os Óscares que não são dignos destas duas interpretações). Realização de autor perfeita. É isto: perfeita!

Golpes Baixos: Algum conteúdo social a mais. A história dos dois bastava. Banda sonora de baixa qualidade para um filme desta categoria.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Oz: The Great and Powerful


Realização: Sam Raimi
Argumento: Mitchell Kapner e David Lindsay-Abaire
Elenco: James Franco, Mila Kunis, Michelle Williams e Rachel Weisz

Há alguns anos atrás, acordei um tanto sobressaltado com um sonho. Nesse sonho, era-me oferecido um repasto num conhecido restaurante lisboeta - e até aqui tudo bem - o problema foi que, à primeira garfada, a comida desapareceu antes de me cair no goto. Era como se estivesse a comer uma nuvem sensaborona e traiçoeira. Foi mais ou menos isto que senti com Oz: The Great and Powerful.

O filme surge como uma prequela ao clássico de L. Frank Baum "O Feiticeiro de Oz", mas não dignifica as suas origens. A história é óptima, e só isso já seria uma grande ajuda para não se fazer um filme de merda. Mas não, Sam Raimi consegue ser cada vez mais medíocre. A história da sua mediocridade vem desde o início da sua carreira como realizador de terror Classe-B e avança mais de uma década até à gigantesca merda que foi a trilogia Spider-Man. Não, mentira: vem até à merda que é este filme.

Mas porque é que Raimi falhou? O filme tem tão bom aspecto, tantas cores e actores famosos. Pois, é precisamente por aí. Raimi agarrou numa história riquíssima e decidiu transformá-la numa espécie de "Avatar - A Sequela". Tudo no filme são efeitos especiais ultra-digitais e preparadinhos para serem vistos num IMAX 3D. E isso não podia ser feito. Não com Oz. Não com uma das peças mais importantes da cultura juvenil universal.

E depois há os actores. Oh... os actores. Temos portanto um dos piores aí da praça a fazer uma das personagens mais místicas e icónicas de sempre. James Franco, you suck! És um gajo fixe de certeza. Tens graça e fazes bem de ganzado. Mas nunca, nunca mais tentes fazer um personagem emocionalmente profundo ou complexo. Porque tu próprio não o és, e também não o consegues fingir. E depois temos as bruxas... Frank Baum está a arranhar o tecto do seu caixão. Mila Kunis e Michelle Williams não conseguem ser nem más, nem boas. São simplesmente... neutras? Rachel Weisz salva a coisa e dá a única boa interpretação do filme (juntamente com Zach Braff que tem sempre alguma piada).

E é isto. E é triste, porque já é altura de alguém com talento e que perceba a profundidade do Man  Behind the Curtain agarrar neste clássico e dar-lhe a homenagem merecida. Já é altura, mas ainda está para vir. No entanto, se estiverem com fome de pipocas e quiserem levar os filhos ao cinema, o filme não é intragável e tem a vantagem de começar e acabar bem - o meio é que é mais difícil.


Golpes Altos: Começo a preto e branco, seria óptimo se Oz fosse interpretado por outro actor. Bom final de filme, quase parece desligado do resto. Mila Kunis, és TÃO forte!

Golpes Baixos: Interpretações. Guião não vive sozinho. Realização para distrair os olhos. Demasiados efeitos, demasiadas cores, bichos demasiado feios. Uma desilusão até para quem, como eu, não tinha ilusões.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Golpes Indie - Safety Not Guaranteed

Realização: Colin Trevorrow
Argumento: Derek Connolly
Elenco: Aubrey Plaza, Mark Duplass e Jake Johnson

Muitos filmes já foram feitos acerca de viagens no tempo. Uns muito bons, outros muito maus. Mas, no geral, todos inteiramente dedicados à sua temática principal: viajar no tempo. Na maioria dos casos, o argumento vive das problemáticas causadas pela viagem - a relação causa-consequência, a possibilidade de alterar o passado de modo a remediar o futuro, e o grande caos da existência de universos paralelos. Safety Not Guaranteed abraça todos esses temas, mas parece descuidá-los à medida que o tempo passa - deixando-os para segundo plano por algo mais importante, mais interessante e mais valioso.

O filme marca a estreia de mais um promissor realizador independente (Colin Trevorrow) e mais um argumentista instantaneamente premiado (Derek Connolly), que recebeu o prémio de Melhor Primeiro Argumento nos Indie Awards deste ano. E foi bem entregue. O filme vale pelos diálogos, pela história, mas sobretudo pela riqueza dos personagens.

A história ganha com o secretismo, e por isso vou abster-me de comentários demasiado explícitos. Mas quero apenas dizer que, apesar de todos os actores estarem óptimos e as personagens serem todas muito bem trabalhadas, uma destaca-se acima das outras. A personagem de Jake Johnson (não, não é o toninho da guitarra acústica) é secundária. Ele interpreta o mais velho de um grupo de jornalistas determinado a investigar um anúncio colocado num jornal requisitando um companheiro para viajar no tempo. Mas, na realidade, a personagem de Jake vive por si própria e cria uma história paralela, tão bem escrita e bem interpretada que, sozinha, já dava um filme.

O resto do elenco é bem conhecido. Temos a enjoadinha-mor (Aubrey Plaza), o novo ídolo indie (Mark Duplass) e um indiano que - imagine-se - é bom com números.



Golpes Altos: Argumento e realização. Cena final épica. "Dois filmes em um".

Golpes Baixos: Mais uma vez... não era suposto os filmes independentes terem bandas sonoras incríveis? Pois bem, este não tem. Ah e Aubrey Plaza... Bebe uns copos, anima-te. A vida não é assim tão má.

terça-feira, 12 de março de 2013

Golpes de Génio - Akira

Realização: Katsuhiro Ôtomo
Argumento: Katsuhiro Ôtomo
Elenco: Nozomo Sazaki, Mami Koyama e Mitsuo Iwata

Um futuro próximo. Fim da 3ª Guerra Mundial. Neo-Tokyo está em estado de sítio. A cidade torna-se palco de estranhas experiências governamentais. Gangues de mota lutam entre si, alheios à acção perniciosa de um Governo liderado por militares e cientistas. A nossa atenção é dividida entre dois amigos - herói e anti-herói - separados por forças que ultrapassam a sua própria compreensão.

Akira,  filme de 1987, permanece uma das mais actuais obras cinematográficas que eu alguma vez vi. Sim, é de animação. Sim, é japonês. E sim, é antigo. Estas três características chegariam para acharmos que nada poderia estar mais longe da nossa realidade - e assim se vê a qualidade de uma obra.

O trunfo, dizem os especialistas do anime, reside no facto de o realizador do filme ser também o criador da banda-desenhada. Calculo que, para os fãs do comic, isso seja maravilhoso. A mim não me disse muito quando, no passado sábado, decidi dar-lhe uma oportunidade e me dirigi ao São Jorge, em Lisboa, para assistir à reposição deste clássico junto dos seus fiéis seguidores. Não me levem a mal, não acho que seja uma forma de arte menor nem nada do género - só nunca foi a "minha cena". Mas, meu Deus... Akira provou-me errado.

Ao longo dos 120 minutos, tive consecutivos flashbacks de filmes de Hollywood que - agora sim - percebo onde foram beber inspiração. Nunca descansei a vista, nunca me aborreci, nunca parei de me maravilhar com os grafismos. Abri e fechei a boca, arregalei os olhos em espanto como se as cores e a mensagem fossem demasiado grandes para o meu pequenino coração. E, quando acabou, fiquei convencido de ter acabado de ver uma das grandes obras de cinema do século XX.

Para resumir, sem desvendar spoilers, vou apenas dizer que Akira combina acção frenética, com dilemas existencialistas que fariam os grandes filósofos do século passado tremerem de respeito. Akira fala de Deus, de morte, de ganância, de moral, da sociedade, de política, de amizade, de loucura, de respeito e de bondade. E trata todos estes assuntos com o fluir natural de uma pincelada. É anime, mas podia ser outra coisa qualquer. Akira definiu um género cinematográfico, colocou-se ao lado dos gigantes do cinema europeu e americano e fez frente a obras como os Watchmen de Alan Moore - e tudo com uma simplicidade, com uma casualidade que nos parece vir de outro planeta. Mas Alas! Abram as bússolas, sigam Este - o planeta é o mesmo.


Golpes Altos: Um argumento brilhante, dinâmico, actual, original... já disse brilhante? Uma realização fantástica (literalmente). Uma banda-sonora arrepiante.

Golpes Baixos: Uma ou outra questão que, creio eu, devem estar mais desenvolvidas na BD, e mereciam mais uns minutos de filme.


domingo, 10 de março de 2013

Side Effects



Realizador: Steven Soderbergh
Argumento: Scott Z. Burns
Actores: Rooney Mara, Channing Tatum, Jude Law, Catherine Zeta-Jones

O Soderbergh já fez de tudo sem nunca ter atingido um nível de génio. Já fez o Traffic (o melhor dele), o Ocean's Eleven (entretenimento como poucos conseguem) e suas sequelas, o Solaris (uma homenagem), os Che (outras homenagens), Magic Mike (WTF?) e agora o Side Effects. Ninguém pode esperar que seja agora que ele chega ao nível de génio, até porque quem conta com o Magic Mike e Jude Law no mesmo filme, não pode ambicionar grandes voos.

O Side Effects conta a história de uma menina perturbada (a Rooney bem gira que tem sempre a mesma cara de sofrimento) que tem o marido prestes a sair da cadeia (Magic Mike preso? Que fez ele? Strip à frente da Casa Branca?). Ela tem problemas de depressão graves, é agora acompanhada por um psiquiatra bem relacionado (Jude Law) e já foi acompanhada por outra psiquiatra bem cotada no mercado (Zeta-Jones que está habituada a esta temática...). Como qualquer depressivo as drogas são um mal necessário, este filme centra todas as baterias nas drogas que os depressivos tomam, seus efeitos secundários e perigos adjacentes.

A primeira metade do filme (o 1º filme de sempre que tem o intervalo no sítio certo nos cinemas Zon Lusomundo) é uma estopada... Não anda nem desanda, perdem demasiado tempo a retratar aquilo que começa a ser previsível. Nesta metade ficamos desconfortáveis com tanto enredo cinzento, tanto ambiente pesado, tanto comprimido e tanta luta contra uma doença horrível. Isso é bom? Só se derem um guia de marcha apetecível, senão é só um exercício depressivo e eu não gosto de exercícios meramente temáticos.

Quando regressamos ao filme tudo muda. A história começa a revelar um enredo interessante, o filme ganha uma dinâmica que nos prende e que nos vai deixando a adivinhar os passos seguintes. Esta 2ª parte é que faz o filme, é aqui que a história nos prende, é aqui que começamos a entender o porquê do tédio inicial. A partir do momento que percebemos o que se passa, torna-se fácil perceber o que vem de seguida. Aponto isto ao filme, um filme que vive do enredo que cria mas acaba por ser previsível cedo demais.

O Soderbergh sabe filmar, nunca filmou mal e aqui o registo mantém-se. Conta bem a história, dá uma cor ao filme que nos faz lembrar a história "azulada" também com a Zeta-Jones no Traffic. Gostei disso mas mais uma vez, não surpreende.

A Rooney Mara é a melhor do filme, o Magic Mike estamos sempre à espera que não entre na cena porque vai estragá-la e os outros 2 são mais do que se tem visto, não são grandes actores mas ficam bonitos no ecrã.

Resumindo, saber fazer filmes não chega, apenas consegue fazer mais um filme que se vê bem mas que não me lembrarei daqui a 15 dias.


Golpes Altos: Realização coerente com o enredo, Rooney Mara, a ideia base do argumento e uma cena que não posso contar aqui senão é considerado "Spoiler". Quem já viu que adivinhe! É fácil :)

Golpes Baixos: Magic Mike, Enredo previsível e uma primeira parte sofrível.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Blancanieves

Realização: Pablo Berger
Argumento: Pablo Berger
Elenco: Macarena García, Maribel Verdú e Daniel Giménez Cacho

A sério? Mais uma versão da Branca de Neve? Depois daquele péssimo com a Julia Roberts e aquele péssimo com a Charlize Theron (e aquele com o ecrã todo a preto)? A sério? Mais um filme mudo e a preto e branco? Depois daquele altamente sobrevalorizado que ganhou o Óscar? A sério?

Sim, a sério. E sabem que mais? É incrível!

Pablo Berger demorou 8 anos a filmar Blancanieves. Debateu-se com problemas de orçamento, de elenco e viu o seu projecto inovador a ser ultrapassado pelo The Artist apenas pela velocidade da pós-produção. E ainda bem que assim foi. The Artist ficou com os prémios da Academia e com os "Awww's" do público de massas, enquanto Berger - esse sim - fez uma maravilhosa homenagem ao cinema mudo, ao expressionismo alemão, ao surrealismo Buñueliano, à Espanha dos anos '20, aos contos dos Irmãos Grimm e à maravilhosa cultura Ibérica! Holé!

Sobre a história não há muito para dizer. Apenas que Berger escolheu desviar-se de alguns plot points do conto original e que, com isso, ganhou o filme, ganharam os diálogos e ganhámos nós. O palco é montado na Espanha dos anos '20, no mundo das touradas. Branca de Neve - o conto - já existe, e a alcunha dada à protagonista advém dele. Mas permanece a história de amor, dos laços de sangue, dos daddy issues e da pureza a prevalecer sobre a perversão. Está lá a maçã envenenada, o beijo de despedida, os anões e a bruxa má - mas as lutas travam-se na arena, olhando o mal nos olhos, torcendo a mão à sevilhana e fazendo as pazes com o passado.

A mim, o filme ganhou-me pela realização expressionista de Wiene e Murnau, pelo cinema do grotesco, do circo, do exagero, pelos close-ups dos olhos e do seu reflexo que fariam Buñuel verter uma lágrima de apreciação. Mas sobretudo, ganhou-me pelo olhar de Antonio Villalta que me fez lembrar o meu avô, e pela menina de caracóis que me fez lembrar a minha irmã e a bebé que vem a caminho. Sei que isto não vos serve de muito, é demasiado pessoal - mas assim é o cinema.


Golpes Altos: Realização de Mestre (com M maiúsculo). A Carmencita que é uma das mulheres mais bonitas que já vi na vida. O elenco no geral e a cinematografia no particular.

Golpes Baixos: A música podia ser um bocadinho mais vanguardista ao longo do filme - parece que guardam os trunfos todos para a cena final.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Movie 43

Realização: Muitos gajos, com muito pouco talento
Argumento: Muitos gajos, nem um argumento
Elenco: "The Biggest Cast Ever Assembled"

Por onde começar? - foi esta a pergunta que 9 idiotas fizeram a si próprios, e nem adivinhavam o que dela resultaria. Esses 9 idiotas eram os argumentistas deste filme, e a resposta... a resposta foi a pior coisa que o cinema já viu.

Mas antes de começar a desancar no filme, no elenco, nos realizadores, produtores, escritores e nas suas respectivas mães que os deixaram entrar neste projecto, quero deixar uma coisa bem clara: eu gosto de filmes estúpidos. Eu aprecio comédia estúpida. Peidos fazem-me rir. O Adam Sandler é o meu actor cómico preferido. Isto para provar que não sou um snob. Não sou um pseudo-intelectual que jura "Ainda não houve nenhum filme que me fizesse rir depois d' O Cálice Sagrado". Não. Eu gosto de peidos, de mamas, de ranho, de quedas parvas, de coisas impossíveis, de piadas porcas e de cagalhões em 3D a virem em direcção a uma plateia de cinema.

Mas isto... isto não é nada. Isto é um conjunto dos 12 piores sketchs cómicos que já vi na vida. São péssimos, péssimos, péssimos. Não têm piadas inteligentes, não têm piadas burras, não têm piadas parvas nem piadas sujas. Não têm piada (ponto). E não há muito mais a dizer.

O leque de actores famosos é grande, mas nem por isso vistoso. Algumas ex-estrelas, alguns underdogs, muitos gajos sem talento e muitas gajas muito boas (Emma Stone, Emma Stone, Emma Stoooonnneeeee).

Para terminar, quero apenas dizer que apesar de todo este horror, ainda me foi mais fácil ver isto que o Gangster Squad. Este filme é estúpido e mau, sim. Mas também não me parece que pretenda ser nada. E por isso não irrita. É mau, só isso.


Golpes Altos: É pequenino. Não chega a hora e meia. Tem a Emma Stone a abrir a boca e a chupar um dedo. Sim, tem isso.

Golpes Baixos: Errr...

domingo, 3 de março de 2013

Guilty Pleasure - Bloodsport (Força Destruidora)



Realizador: Newt Arnold
Argumento: Sheldon Lettich (alguém escreve estas coisas?)
Actores: Jean-Claude Van Damme (o resto é poeira)

Queria começar por realçar que ao querer falar deste filme descobri uma pérola. Este realizador foi, nada mais nada menos que Assistente de Realização do 2º filme do Padrinho. Sim, do Padrinho!

Bom, este filme é para mim o filme de eleição no que toca a... como é que é o termo técnico... PORRADA!
Quem for homem e tiver à volta de 30 anos, adora este filme e só está à espera que alguém num jantar diga que também gosta para poder sair do armário de guilty pleasure.

Quanto à história: O Van Damme é Frank Dux (que existiu na realidade), um Americano que é craque em quê? PORRADA! Ouve falar do "Kumite" que se passa em Hong-Kong. Esse "Kumite" é basicamente um concurso de Miss Universo mas da PORRADA! Lá estão os melhores dos melhores no que toca a PORRADA! Os brasileiros com a Capoeira, os Tailandeses com o Muay Thai, os Russos com a força bruta, etc. Está lá tudo e está também o Chong-Li, campeão em título, um gajo com as mamas que fariam inveja à Sofia Vergara e que joga sujo, parte braços, mata gajos... tudo o que um "mau da fita" precisa para ser odiado e temido.

Quem é que ganha no fim quando tudo parece perdido? Frank Dux como é óbvio... Chong-Li lança-lhe um pó que provoca cegueira temporária e a partir daí o filme torna-se numa homenagem aos cegos. Sem ver nada, por ter treinado em casa esta técnica de lutar às cegas, rebenta com o mamalhudo!

Cenas épicas:
- O "teste" de quebrar tijolos antes de entrar no Kumite.
- As mamas do mau.
- As t-shirts do chato do amigo do Frank Dux.
- O Frank Dux a servir chá vendado.
- O Frank Dux a fazer a espargata com os pés em duas cadeiras.

O filme acaba e fez-se história.

Quem não tem guilty pleasures não é feliz como podia!

Golpes Altos - Todas as cenas que já falei, a criação do mau da fita (os filmes de PORRADA são bons no que toca a vilões) e claro... Van Damme... o Belga de boas famílias que o rejeitam como membro por os ter envergonhado com a carreira que seguiu.

Golpes Baixos - Como podem haver? Ok, talvez a gritaria histérica quando o Frank Dux fica cego... Parece que está em pleno Holocausto.

sábado, 2 de março de 2013

Welcome to the Rileys

Realização: Jake Scott
Argumento: Ken Hixon
Elenco: James Gandolfini, Kristen Stewart e Melissa Leo

Parece que o sobrinho do Tony Scott agora também faz filmes, e o resultado é bom. Welcome to the Rileys é um filme de 2010 - Então porque raio é que estamos a falar dele? Porque vai estrear nas salas de cinema lusomundo na próxima semana. Pois... Suponho que o tenham achado pouco apelativo, mas mudado de ideias quando perceberam que o rabo nu da Kristen Stewart aparece repetidamente. Mas voltemos ao filme.

Os Rileys são um casal de meia idade interpretados por James "Tony Soprano" Gandolfini e Melissa Leo. Os Rileys perderam a filha de 15 anos num acidente de automóvel. O senhor Riley gosta de fumar cigarros na garagem às escuras. A senhora Riley tem medo de sair de casa. O senhor Riley conhece uma prostituta, e vê nela a oportunidade para "terminar" a educação da sua filha morta. Este é um filme que segue a direcção de muitos lugares comuns, mas de alguma forma parece sempre conseguir esquivar-se deles. É um trabalhado de argumento notável, harmonizado por uma realização matura e original, e com a vantagem de ter três excelentes actores a liderarem.

Acima de tudo, o que este guião consegue é tornar este filme bizarramente credível, tendo em conta o facto de a premissa ser fora do que se pode chamar uma realidade comum. Por isso o que é realista aqui não é a história, são as personagens. A forma como Jake Scott as guia é sublime. James Gandolfini foge mais uma vez da memória de um Soprano eterno, refugiando-se agora na pele de um homem forte mas terno, frágil e solitário. E quanto a Melissa Leo, é sem dúvida uma late-bloomer. Se já estava convencido com a sua interpretação em The Fighter, agora fiquei rendido.

Este é um filme que merece atenção e um bocadinho do vosso tempo. Não vos vai mudar a vida, mas vai permitir-vos identificação e algum exercício de alma. Se não vos disser mesmo nada, têm sempre a oportunidade de ver as ruas de Nova Orleães e o rabo da Kristen Stewart - ambos magnificamente filmados.


Golpes Altos: Um dos melhores trabalhos de argumento que tenho visto. Três interpretações magníficas. Excelente realização.

Golpes Baixos: Se em algum momento acharem alguma estranheza nos diálogos, oiçam com mais atenção: é o som de um diálogo real, e não o de um diálogo de filme. Não encontro golpes baixos.